Surge um clássico super-herói
Por Radha Barcelos
“Ele
não é um herói. Ele é um guardião silencioso. Um protetor zeloso. Um cavaleiro
das trevas.” diz o Comissário Gordon na última cena de Batman – O cavaleiros
das trevas, segundo filme da trilogia do homem-morcego lançado em 2008. Essas
frases resumiam tudo o que o espectador havia acabado de assistir num final
emocionante. Com a expectativa alta, nos restava apenas aguardar pela
derradeira sequência da série. Corta. 2012.
Batman – O cavaleiro das trevas ressurge entra em cartaz. Inicialmente
tudo parece acontecer como o indicado: Bruce Wayne (Christian Bale) pendurou as
chuteiras e toda a parafernalha do seu alter ego, está mais velho e debilitado
fisicamente, já que, é sempre bom lembrar, não possui superpoderes. Ele é
apenas um homem com sede de justiça, cuja riqueza lhe dá acesso a artefatos de
tecnologia de ponta, que juntamente com suas habilidades ninjas desenvolvidas é
capaz de transformá-lo num símbolo da luta pelo “bem”. Mas um novo maníaco
surge e Gotham City, que andava tranqüila, volta a precisar do seu salvador.
Dessa vez é o fiel mordomo Alfred (Michael Caine) quem traz a discussão à
respeito do papel do herói. Diferentemente do que se imaginava, esse personagem
é jogado para escanteio, a questão enterrada e o subgênero filmes de
super-heróis abraçado.
A
decisão do diretor Christopher Nolan de optar por esse caminho é totalmente
contraditória com o que ele construiu nos dois primeiros filmes da trilogia.
Desde Batman Begins, o cineasta vem apostando num Batman mais realista,
sombrio, atormentado pelo trauma da perda dos pais e sempre tendo que lidar com
a controvérsia das suas ações. A escolha por essa linha foi justamente o fator
responsável pelo sucesso da franquia, pois nenhuma das tentativas anteriores de
reprodução na telona dos quadrinhos do personagem havia chegado tão perto do
original. Pela primeira vez um filme de super-herói questionava a forma de
heroísmo do próprio herói. Essa carga existencialista e o dualismo, que tem no
segundo filme seu ápice, é dissipada no terceiro. Menos diálogos, mais cenas de
ação grandiosas e mais fantasia. Contraditoriamente, é também o menos alegórico
dos três, o que causa um impasse. Batman fica deslocado dentro daquele contexto.
Um justiceiro de roupa emborrachada, máscara e capa voa com sua nave espacial (sim,
voando) por Nova York (fica claro que Gotham City é Nova York) na tentativa de
derrotar um vilão com cara de carrasco que atacou a bolsa de valores. Percebam
quantos elementos díspares existem nessa frase. Nolan quis compensar o capricho
da ficção com o hiper-realismo dos filmes-catástrofe.
Batman
– O cavaleiro das trevas ressurge se rende a espetacularização do terror. É sim
verdade que o medo é um fator primordial que move toda a história do personagem,
a começar pela sua própria fobia de morcegos, até a criação do Batman como um
símbolo para aterrorizar aqueles que provocam pânico na população, os
criminosos. Wayne deseja que eles sintam o mesmo que provocam nas pessoas.
Porém, essa característica já foi mais bem trabalhada nas outras obras. No
segundo filme, por exemplo, o Coringa é a figura borrada do insano, do
psicopata, do inexplicável, concentrando em si o espetáculo do terror. Sua
imagem na tela já é por si só apavorante, inspirando instabilidade o tempo
todo. Tanto que, dos três longas, Batman – O cavaleiro das trevas é o que menos
possui cenas de ação e mais foca nas discussões morais que envolvem o
protagonista e o vilão.
É
de conhecimento geral também que o desempenho de um filme maniqueísta depende
de um bom vilão. Nesse sentido, o segundo da série é hors concours. Já nesse
último... Bane (Tom Hardy) não é carismático e nem original. Na tentativa de
amarrar as pontas do roteiro, o linkando com os anteriores, algumas
justificativas ficaram forçadas e o filme, muito explicativo. Na verdade, Bane
é o mesmo personagem que Ra's Al Ghul. Ambos possuem o mesmo motivo que os
impulsiona a agirem daquele modo. O vilão de agora não se sustenta por si só e
tem que se apoiar no discurso de um vilão passado, o hiperbolizando apenas para
se diferenciar de alguma maneira. Além disso, a revelação guardada para o final
se utilizou de um artifício fácil e antigo com objetivo de ligar os pontos
superficialmente. Fora aquele papo de rendenção que os americanos.
Batman
– O cavaleiro das trevas ressurge diverte como um bom blockbuster, apesar do
seu mix confuso de filme de super-herói com filme-catástrofe. Com certeza vai
arrecadar milhões nas bilheterias e ainda gerar outra franquia, já que o final
deixa em aberto o destino de personagens recém chegados como a Mulher-Gato e o
Robin, e até do próprio Batman. Entretanto, a chave que fecha esse ciclo não é
de ouro. Da trilogia de Christopher Nolan ficará eternizado na História do
Cinema apenas o inesquecível rosto manchado do Coringa de Heath Ledger.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Tom
Hardy, Anne Hathaway, Michael Caine, Morgan Freeman, Joseph Gordon-Levitt,
Marion Cotillard...
Gênero: Aventura
País: EUA
Duração: 165 min
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