por Robson Mello*
Diante do cenário em que se
encontra a economia da cultura na cidade, é preciso de alguma forma elucidar
como se dá o processo de uso da lei e suas atribuições enquanto mecanismo de
acesso a recursos destinados a cultura.
A Lei Rouanet é uma lei de
incentivo instituída em 1991 que tem como principal objetivo o fomento à
cultura. A mesma se divide em três mecanismos, sendo o MECENATO (incentivo
fiscal) forma mais utilizada, o FNC – Fundo nacional de cultura (verba de
acesso direto por emenda parlamentar) e o FICART - Fundo de Investimento Cultural e Artístico
(nunca implementado). Dessa forma, o Mecenato mais difundido acaba sendo
confundido com a própria lei.
Sobre o Mecenato, o Ministério
da Cultura (hoje secretaria com poder de Ministério) dá a melhor definição: “O
incentivo é um mecanismo em que a União faculta às pessoas físicas ou jurídicas
a opção pela aplicação de parcelas do Imposto sobre a Renda, a título de
doações ou patrocínios, no apoio direto a projetos culturais aprovados pelo
Ministério da Cultura. Ou seja: o Governo Federal oferece uma ferramenta para
que a sociedade possa decidir aplicar parte do dinheiro de seus impostos em
ações culturais. Desta maneira, o incentivo fiscal estimula a participação da
iniciativa privada, do mercado empresarial e dos cidadãos no aporte de recursos
para o campo da cultura, diversificando possibilidades de financiamento,
ampliando o volume de recursos destinados ao setor, atribuindo a ele mais
potência e mais estratégia econômica.”
De fato, em tese o conceito é
esse, mas na prática existem diversas problemáticas que geram confusão e
discussão perante a população em geral. Vou citar e comentar apenas 3 delas:
A primeira e mais difundida, é
a questão de afirmações que o “Ministério da cultura dá dinheiro para os
artistas”, não é o que acontece, existe todo um fluxo regido por uma portaria
ministerial que garante aos artistas (qualquer pessoa) apresentar propostas ao
ministério para sem aprovadas por técnicos especializados na lei e passam por
um crivo rigoroso de orçamento e cumprimento do objeto do projeto. Além disso,
quem decide pela escolha de que o projeto será agraciado pela renúncia do
imposto são as pessoas física e jurídicas que realizam aportes, e não o
ministério que somente fiscaliza e chancela propostas.
A segunda, trata do “privilégio
para grandes produções e artistas famosos”. De fato, sim, a decisão da
doação/patrocínio é do patrocinador e não do Ministério, que afirma que compensa
essa situação com a abertura de editais de acesso direto sem a figura do
patrocinador. No entanto, ao meu ver, os editais não cumprem essa compensação,
o poder do patrocinador com a lei de incentivo, onde o volume de recursos é
muito maior, faz com que a escolha seja por projetos que terão grande
visibilidade e em regiões de maior centralização, trazendo um enfraquecimento
para os pequenos produtores e artistas locais frente as grandes produções
culturais.
E a terceira, trata sobre “a
dúvidas e medo dos patrocinadores de que irão cair na malha fina do imposto de
renda”. Se o processo for feito de maneira incorreta, ou em desacordo com a lei
isso realmente pode acontecer, no entanto o fluxo de aprovação e fiscalização
do ministério foi montado para garantir, ou pelo menos minimizar, para que isso
não aconteça, com certeza antes de chegar nesse ponto o projeto será
indeferido.
Diante desse cenário, o qual
posso aprofundar em mais detalhes em outro momento, pensamos no produtor local,
o artista iniciante que luta pelo acesso a programas de fomento. E vemos
claramente uma discrepância de acesso, uma vez que as grandes produções acabam
por consumir ou senão abocanhar quase a totalidade de recursos disponíveis
pelos patrocinadores próximos. Esse fato, só não é excludente porque existem
medidas de democratização e exigências de valorização e contratação de
fornecedores locais.
Cabe ao produtor/artista
realizar suas atividades sendo subcontratados por produtoras que executam estes
grandiosos projetos. É fato que, como em toda cadeia produtiva, quanto mais
atravessadores, maior o custo e menos sobra para o produtor final, o que está
na base de tudo.
E aí vem a pergunta, como
reverter isso? Como se apoderar dos mecanismos de incentivo? Já passou da hora
dos órgãos governamentais, que possuem maior “poder de barganha” frente a
patrocinadores, ao invés de abocanharem os recursos priorizando artistas
famosos e privilegiados políticos, cumprir seu papel enquanto representante da
população e direcionar seus esforços para a captação/produção e execução de
eventos incluindo e valorizando o artista local contratando seus produtos ao
valor devido de mercado e pagando em dia. Dessa forma, a roda da economia
cultural irá girar tanto para a cidade quanto para a evolução das pequenas
produções locais que querem se tornar grandiosas.
E qual o papel do pequeno
produtor? Está na hora de se profissionalizar, de se organizar como sociedade
civil e prover meios de transferência de conhecimento através de ajuda mútua.
Fiscalizar os órgãos públicos não permitindo que atravessadores da cultura
recebam por uma coisa e paguem por outra. Não permitindo que agentes culturais
que somente almejam lucro sejam única e exclusivamente detentores do conhecimento
dos usos desses mecanismos.
Para fiscalizar e saber todos
os detalhes dos projetos apresentados em andamento acessem o portal da
transparência VERSALIC no link http://versalic.cultura.gov.br/,
nele é possível visualizar todos os detalhes, desde os incentivadores do
projeto como planilha de custos e prestação de contas.
A Lei está aí, é funcional e
de vários anos para cá se tornou cada vez mais transparente. Hoje, é possivel
saber como cada rubrica é paga e quais são os patrocinadores. Cabe a nós fazermos
também a nossa parte.
(*)Robson Mello é formado pela
Fase em administração de empresas com ênfase em sistemas de informação, possui
outras duas formações na área de gestão empresarial e gestão de projetos, foi
suplente do segmento de bandas marciais no conselho de cultura e tem vasta
experiência em elaboração de projetos culturais aprovados pela Lei Rouanet,
realizando projetos desde 2006.
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