Cíntia Azara - Nutricionista da UNIFASE |
Cíntia Ramos Azara*
Nas últimas décadas, observou-se uma mudança nos padrões na epidemiologia da
alergia alimentar (AA), com aumento da prevalência, gravidade das manifestações
clínicas e risco de persistência até idades mais avançadas. De acordo com os
dados epidemiológicos mais recentes, a análise de tendência temporal mostrou um
aumento de 7 vezes nas internações por reações alérgicas graves em crianças do
Reino Unido, EUA, Itália e Austrália nos últimos 10 anos. Mais de 170 alimentos
foram identificados como desencadeadores da AA, como nozes, ovos, amendoim,
peixe, marisco, leite, trigo, soja e sementes, com variações nacionais e
geográficas referentes à AA mais comum.
História familiar atópica, etnia, dermatite atópica (DA) e polimorfismos genéticos relacionados foram associados ao desenvolvimento de AA. Embora fatores genéticos possam predispor o seu desenvolvimento entre indivíduos selecionados, eles não podem explicar as mudanças na epidemiologia nesse curto período de tempo, sugerindo que fatores ambientais promovem AA, que se desenvolve após a perda da tolerância imunológica, o que resulta em sensibilização alérgica e subsequente manifestação e progressão da doença.
A exposição inicial a alérgenos alimentares ocorre predominantemente através do trato gastrointestinal ou da pele. Uma barreira cutânea comprometida pode levar ao aumento da passagem transcutânea de antígenos e subsequente sensibilização. No trato gastrointestinal, os dois principais fatores que influenciam a tolerância imunológica são fatores alimentares, composição e função da microbiota.
A microbiota intestinal desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e na função do sistema imunológico. A modificação da composição da microbiota intestinal (disbiose) no início da vida é um fator crítico que afeta o desenvolvimento de alergias alimentares. Muitos fatores ambientais, incluindo falta de leite materno, medicamentos, agentes anti-sépticos e dieta pobre em fibras e/ou com alto teor de gorduras de má qualidade, podem induzir a disbiose da microbiota intestinal e têm sido associados à ocorrência de alergia alimentar, sendo assim, a atenção à adequação no consumo de ácidos graxos ômega-3, antioxidante, fibras, dentre outros deve ser notória para um efeito preventivo.
Novas tecnologias e ferramentas experimentais forneceram informações sobre a importância de bactérias selecionadas nos mecanismos de tolerância imunológica. Os ácidos graxos de cadeia curta são produtos metabólicos cruciais da microbiota intestinal, responsáveis por muitos efeitos protetores contra a alergia alimentar. Estes compostos estão envolvidos na regulação epigenética do sistema imunológico. Essas evidências fornecem uma base para o desenvolvimento de estratégias inovadoras para prevenir e tratar alergias alimentares.
Como o tema apresenta muitas novidades é importante que o nutricionista busque cursos de atualização para atender a esta demanda crescente do atendimento clínico nutricional.
(*) Nutricionista. Coordenadora da Especialização Lato Sensu em Alergia e Intolerâncias Alimentares da UNIFASE.
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