Alessandra Sauan |
Alessandra Sauan do Espírito Santo Cardoso *
Daqui a três anos, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) irá completar meio século. Diante das grandes vitórias, de controle e erradicação de doenças imunopreveníveis, uma preocupação paira sobre vários profissionais, gestores e pesquisadores da área da saúde: a queda das coberturas vacinais em meio à pandemia COVID-19.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) já demonstrava sua preocupação com as baixas coberturas vacinais bem antes do estado de emergência mundial de Saúde Pública, provocado pelos casos de SARSCoV-2. Em 2019, a OPAS iniciou uma pesquisa em vários países das Américas para avaliar os motivos correlacionados à baixa cobertura vacinal, sendo que, com o estado de pandemia foi acrescentado este elemento à pesquisa. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) convidou, em junho deste ano, a representante da OPAS para apresentar alguns resultados desta pesquisa em uma webconferência (Boas Práticas em Imunizações em tempos de pandemia), mantendo a gravação do evento disponível para consulta.
Sendo assim, no Brasil, alguns fatores tiveram destaque pela OPAS para esta discussão, como a mudança que ocorreu nos últimos anos em relação aos sistemas de informação do PNI. Com o intuito de aprimorar os sistemas de informação e qualificar as equipes de saúde, principalmente da atenção básica, novos sistemas de coleta de dados foram instituídos. Os sistemas evoluíram de coleta de dados agregados para coleta de dados nominal, ou seja, do registro da dose administrada, para o registro por indivíduo vacinado (sistemas: SI-API, APIWEB, SI-PNI, E-SUS). Contudo, de certa forma essa mudança repercutiu na avaliação das coberturas vacinais.
Dentre outros motivos apresentados, a pesquisa da OPAS indicou o desabastecimento momentâneo de algumas vacinas, as Fake News e os movimentos antivacinas. Com relação à pandemia COVID-19, o estudo verificou o medo de infecção pelo Coronavírus, a redução dos profissionais de saúde nas unidades e a dificuldade de deslocamento para as salas de vacinação devido as medidas restritivas de mobilidade urbana.
Além da pesquisa da OPAS, outros estudos também foram instituídos no Brasil, visando a compreensão da queda da cobertura vacinal em associação ao período pandêmico. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) realizaram um levantamento com médicos de vários estados do país e destacaram que crianças não estão sendo vacinadas, bem como gestantes estão adiando consultas e exames por medo da contaminação pelo COVID-19.
O levantamento nacional foi realizado no período de julho e agosto deste ano, por via eletrônica com pediatras e obstetras. Os resultados, desta pesquisa da SBP e Febrasgo, convergem com a pesquisa da OPAS em relação ao medo das famílias de contaminação ou infecção pelo COVID-19 ao buscar as unidades de saúde para a atualização do cartão de vacinação.
Os médicos pesquisados também relataram a redução das consultas presenciais, em contrapartida a um aumento dos atendimentos pelo telefone, aplicativos de mensagens e outras formas de comunicação a distância. As gestantes não estão realizando as consultas de pré-natal e seus exames de rotina, bem como não estão seguindo as indicações de atualização de vacinas. A falta de informação, quanto aos riscos da não vacinação, também foi um fator relatado pelos médicos, pois as doenças que foram controladas e eliminadas através das estratégias de vacinação podem retornar, caso o cenário de baixas taxas de cobertura vacinal não seja revertido.
Os estudos ajudam na compreensão e no entendimento da realidade, e revelam que para a maioria da população, ainda não está claro o risco iminente de retorno de doenças graves, com prognóstico de sequelas a serem enfrentadas. Sarampo, meningite, coqueluche, difteria, tétano, poliomielite, dentre outras doenças imunopreveníveis precisam ser evitadas. E, a melhor estratégia é através da atualização do cartão de vacinas. O alerta deve ser para todos os familiares, responsáveis por crianças e adolescentes, profissionais da saúde, professores, enfim, toda a sociedade.
(*) Enfermeira e professora da UNIFASE em Petrópolis (RJ)
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