Dr. Carlos Vinícius Leite 




Dr. Carlos Vinícius Leite*


Primeiramente, é importante destacar que o câncer de mama é um problema de saúde pública mundial, com mais de dois milhões de indivíduos diagnosticados anualmente, e a segunda doença maligna mais comum no mundo. Dados do Instituto Nacional do Câncer mostram que, com exceção dos tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é a neoplasia mais comum em mulheres em todas as regiões do país. No Estado do Rio de Janeiro, estima-se que mais de 9 mil casos ocorrerão em 2020. O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) revela que, em 2018, em decorrência do câncer de mama, 17.572 óbitos foram registrados no Brasil, 2.367 no Estado do Rio de Janeiro, com 54 óbitos em Petrópolis. Esses dados preocupam.

 

A campanha de conscientização contra o câncer de mama, conhecida como Outubro Rosa, visa a disseminação de hábitos alimentares saudáveis, atividade física regular e ressalta a importância do exame de detecção precoce, encorajando as mulheres a realizarem seus exames, além de lutar por seus direitos ao tratamento de qualidade. Esse movimento vem conscientizando a população a manter o peso adequado, praticar exercícios físicos e evitar o consumo de bebidas alcóolicas, assim como amamentar, pois, são atitudes que ajudam a reduzir o risco de câncer de mama e ainda proporcionam uma boa qualidade de vida para quem já está em tratamento. Uma segunda estratégia trabalhada na campanha, para diminuir a mortalidade, é a detecção precoce através da mamografia anual, após os 40 anos, como recomenda a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

 

Em 2020, com a chegada dos casos do novo Coronavírus, houve redução na realização de mamografias. Segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em câncer de mama, as mamografias realizadas no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de janeiro a junho de 2020, na faixa de 50-69 anos, estiveram 67% abaixo em relação ao mesmo período no ano passado. Em alguns Estados, com a melhora dos números da pandemia, já se observa uma tendência na realização de mamografia próximo aos números do ano anterior.

 

A Pandemia influenciou na quantidade de consultas realizadas na especialidade, apesar do atendimento ambulatorial e cirúrgico não ter sido suspenso pelo Serviço de Mastologia do Hospital de Ensino Alcides Carneiro (HEAC). Notamos uma queda de 22% nas consultas de janeiro a agosto de 2020 comparado com o mesmo período de 2019. Acusamos 310 faltas nas consultas previamente agendadas nesse período. Consequentemente, observamos uma diminuição no volume de cirurgias de 30%.

 

Acreditamos que essa diminuição das cirurgias foi em parte devido ao isolamento imposto pela pandemia e também por mudanças nos protocolos para tratamento do Câncer de Mama em situação de Pandemia pelo COVID-19, em que determinadas situações, as pacientes foram encaminhadas para tratamento clínico igualmente eficaz, postergando o tratamento cirúrgico.

Em 2019, 250 pacientes foram operadas no HEAC, sendo que realizamos 32 reconstruções mamárias imediatas. Poucas pacientes, com contraindicação médica, e as que optaram por postergar a reconstrução imediata, após Mastectomia, não foram submetidas à reconstrução. No período de janeiro a agosto de 2020, realizamos 4 reconstruções imediatas, após uma ampla explicação sobre as novas diretrizes para em tempo de pandemia. Saímos de um total de 359 procedimentos cirúrgicos realizados em 2019 para 164 de janeiro a agosto de 2020 (232 procedimentos cirúrgicos em igual período de 2019).

 

Agora, com a flexibilização do afastamento social e as medidas de segurança para evitar o contágio e a disseminação do COVID-19, as mulheres devem retornar de forma segura às rotinas para detecção precoce do Câncer de Mama. Saliento que as mulheres com nódulo suspeito e persistente devem procurar a Unidade de Saúde do SUS mais próxima de suas residências para que possa ser avaliada por um profissional capacitado.

 

Nosso desafio como médicos, renovados anualmente pela Campanha Outubro Rosa, é tornar igualitária as oportunidades de prevenção, detecção precoce e tratamento entre as diversas camadas da população. Assim, tentando democratizar o tratamento do câncer de mama, buscando atualizações técnicas constantes e aplicando dentro do SUS. É importante que todos estejamos envolvidos e comprometidos com essa causa. 

 

(*)Médico mastologista, professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE).

 

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