*André Luís Figueiredo
Desde o surgimento do SARS-COV2, através de mutações espontâneas, em Wuhan na China, em meados de 2019, e a caracterização da síndrome provocada pela infecção do vírus em humanos (COVID-19), os rumos da sociedade mundial ganharam outro direcionamento. Em poucos meses, um problema de saúde pública restrito à China, ganhou o mundo a partir de processos migratórios: primeiro a Europa e os Estados Unidos, depois o restante do mundo.
Várias medidas foram tomadas pelas autoridades sanitárias, encabeçadas pela OMS, para contenção do vírus. Entretanto, nenhuma efetiva. Conseguiu-se um leve atraso na disseminação com o intuito de organizar as unidades de saúde para o enfrentamento à doença. O SARS-COV2 (famoso Coronavírus) é um vírus RNA que, como todos os outros, utiliza a maquinaria da célula hospedeira para se perpetuar, fazendo cópias dele, para se manter vivo e operante. Em função de sua presença, nosso sistema imune tenta por vários mecanismos eliminá-lo. Justamente, em função da diversidade de mecanismos, mediadores químicos são secretados pelas células recrutadas que se acumulam no sangue, gerando, os sintomas e mais recentemente as sequelas da COVID-19.
O excesso de mediadores imunológicos traz os sintomas sistêmicos apresentados nos quadros de COVID-19, sem, contudo, termos medicações adequadas e diretivas à infecção pelo vírus SARS-COV2. Outra observação importante, é com relação à severidade da doença (se o quadro é mais brando ou mais severo), pois acredita-se na carga viral durante a infecção. Hoje, já sabemos que a severidade vai depender de fatores idiossincráticos do paciente, ou seja, de sua constituição genética acerca dos genes de resposta imunológica, que ditará sua resposta frente à infecção pelo SARS-COV2.
Uma das grandes preocupações, neste momento pandêmico, é a taxa de mutação do SARS-COV2 (aproximadamente duas mutações por mês). Em função das taxas de disseminação da doença, quando mais gente infectada, mais possibilidades de mutação do vírus objetivando perpetuar sua espécie. Atualmente, temos por volta de 285 novas mutações já catalogadas, a grande maioria sem repercussão imunológica. Entretanto, uma mutação em especial tem trazido preocupação: A mutação D614G, na proteína SPIKE, que vem a ser a principal ferramenta viral para entrada na célula hospedeira. Nesta mutação, ocorre a substituição do aminoácido ácido aspártico, na posição 614 da cadeia de aminoácidos, pela glicina. Isso faz com a proteína que sofreu mutação seja diferente da original, quando reconhecida pelo sistema imune.
Essas mutações ocorrem
espontaneamente, sendo impossível controlar. Na primeira onda de infecção em
Houston, por exemplo, a maioria dos vírus circulantes apresentavam a variante
614D (tinham ácido aspártico na posição 614). Já na segunda onda, mais de 90%
dos vírus circulantes apresentavam a variante 614G (Glicina na posição 614).
Daí a importância do sequenciamento do genoma viral em cada uma das ondas. A
única maneira efetiva de conter as taxas de mutação é o isolamento social, pois
impede que o infectado transmita o vírus aos seus semelhantes, fazendo com que
o SARS-COV2 cumpra seu ciclo de vida apenas naquele infectado. A mutação D614G
é a que tem maior repercussão imunológica, visto que o vírus ganha maior
capacidade de infecção, sem influenciar na gravidade do quadro clínico do
infectado. É importante salientar que quanto mais infectados, maior a
taxa de mutação.
Outra preocupação com as mutações é com relação à produção de vacina, que são
confeccionadas a partir de antígenos mais significantes do ponto de vista
imunológico, ou seja, pedaços da estrutura do vírus que permitam ao sistema
imune um reconhecimento com consequente produção de anticorpos. É possível que
quando a vacina entrar no mercado, a cepa viral circulante apresente, em função
das mutações, outros antígenos que a vacina não contemple. De fato, isso é uma
preocupação, porém em longo prazo. Tudo vai depender da colaboração com relação
às novas diretrizes sociais: ‘lockdown’, o uso de máscaras e a utilização do
álcool 70%. Para isso, um programa de educação em saúde deve ser implementado e
aderido em massa pela população. Só dessa maneira será possível atrasarmos a
infecção em massa, para uma imunização efetiva, a partir da vacina. Educação em
saúde é a solução!
(*) Geneticista, professor da UNIFASE/FMP.
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