Andrea Kaezer |
Andrea Kaezer*
A obesidade é caracterizada por uma concentração elevada de massa gordurosa no organismo com aumento do volume do tecido adiposo e importante fator de risco para doenças crônico degenerativas como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a obesidade é um dos mais
graves problemas de saúde que o sistema de saúde vem enfrentando. Em 2025, a
estimava é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam com
sobrepeso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade. No Brasil, a
obesidade aumentou 67,8% nos últimos 13 anos, aumentando de 11,8% em 2006 para
19,8 em 2018. No tocante da obesidade infantil, o Ministério da Saúde aponta
que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos apresentam obesidade, assim
como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos. Etiologicamente,
a obesidade é considerada uma doença crônica de caráter multifatorial,
envolvendo fatores genéticos, endócrino-metabólicos, socioculturais e
ambientais.
Considerando os aspectos biológicos da obesidade, vários trabalhos científicos
relatam alterações nos mecanismos regulatórios de hormônios e neuropeptídios
como colecistocinina (CCK), a grelina, neuropeptídeo Y (NPY) e o peptídeo YY,
que são sustâncias envolvidas no controle da ingestão alimentar. A CCK e o
peptídeo YY são liberados pelo trato gastrointestinal e ao nível cerebral
inibem a ingestão alimentar, promovendo a saciedade, após uma refeição. O NPY é
sintetizado no Sistema Nervoso Central (SNC) e estimula a ingestão. A redução
nos níveis de insulina e leptina ativa os neurônios produtores de NPY no
hipotálamo, e a leptina inibe sua síntese. A grelina é um hormônio gastrointestinal
estimulador do apetite e faz parte dos sistemas de regulação do peso corporal.
A produção excessiva de grelina pode levar à obesidade. Alterações no controle
da liberação dessas e de outras sustâncias envolvidas na regulação do balanço
energético pode provocar disfunções nos sistemas de regulação do peso corporal
favorecendo o aparecimento da obesidade.
Os principais fatores ambientais associados a essa epidemia parecem
relacionar-se às mudanças no padrão alimentar da população em geral, que nas
últimas décadas passou a aumentar o consumo de alimentos ultraprocessados,
ricos em carboidratos simples e gorduras saturadas, em detrimento de alimentos
in natura. Essa alteração no padrão alimentar está associada a um perfil
pró-inflamatório presente na gênese da obesidade e também relacionado a outras
doenças crônicas como depressão e doenças cardiovasculares, por exemplo.
Paralelamente, a obesidade também se relaciona a fatores psicológicos como o
controle, a percepção de si, a ansiedade e o desenvolvimento emocional. Dessa
forma, o advento da pandemia trazendo consigo o isolamento social e aumento das
dificuldades sócio econômicas vem impactando no comportamento alimentar com
estimativas de ascensão nos números de obesos e suas morbidades.
Sendo assim, medidas preventivas e intervencionistas de incentivo a uma
alimentação equilibrada, pautada em alimentos in natura como legumes, frutas,
carnes, ovos, cereais, feijões, laticínios e sementes tornam-se fundamentais.
Considerando a realidade pandêmica, cozinhar em família, planejar um cardápio e
organizar lista de compras mais saudáveis, realizar refeições em família são
algumas ações úteis que podem trazer, inclusive, benefícios futuros para nosso
comportamento alimentar. Além disso, a prática regular de atividade física
(idealmente 150 minutos por semana) está intimamente associada a melhora das
alterações metabólicas encontradas na obesidade, além de promover bem-estar
físico e mental. Dessa forma, medidas associadas às mudanças do estilo de vida são
fundamentais para prevenção e controle da obesidade.
(*)Nutricionista, Mestre em Fisiopatologia clínica e experimental, Doutora em Biologia e professora da UNIFASE/FMP.
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