Emoções como ansiedade e medo afetaram a vida pessoal e profissional, mas identificar os sentimentos é fundamental para resolver conflitos
Em março, a pandemia completa,
oficialmente, um ano. Nesses doze meses, a vida de praticamente todas as
pessoas ao redor do planeta mudou completamente, mas foi na lógica de trabalho
que houve uma das rupturas mais radicais causadas pela Covid-19. Grande parte
trocou a rotina no escritório pela do home office, o que transformou o dia a
dia. Pais passaram a dividir seu tempo em casa com a escola dos filhos e
tarefas domésticas. O happy hour acabou, a conversa com os colegas de trabalho
nunca mais teve a mesma dinâmica e até os rituais mais simples de ir e vir, das
compras no supermercado ao passeio no parque, foram cortadas.
É claro que todas essas mudanças afetaram as nossas emoções e saúde mental.
Mas, afinal, o que estamos sentindo? Como podemos chamar esses sentimentos? De
acordo com pesquisa realizada pela MindMiners, - empresa de tecnologia
especializada em pesquisa digital - ansiedade (46%) e preocupação (56%) foram
os sentimentos mais relatados pelos brasileiros durante o período. São
"emoções genéricas" que, segundo o próprio estudo, são usadas
"quando queremos descrever situações de alta tensão, mas sem tanta consciência
emocional e sem saber exatamente o que sentimos", descreve a pesquisa.
Segundo Natasha de Caiado Castro, especialista em inteligência de mercado e
marketing de experiências e CEO da Wish International, essas novas emoções,
quando não nomeadas, atrapalham as nossas relações em geral, inclusive
profissionais. Para ela, é esse desconhecimento que tem causado descompasso na
comunicação das organizações com seus colaboradores, levando a problemas no
ambiente de trabalho, desde atritos entre pessoas até entrega de resultados.
"Mas por que é tão importante assim saber o que se passa com os nossos
sentimentos e, no caso de empresas, com dos que trabalham com a gente? Pois é a
partir da identificação dessas questões que conseguimos atacar suas causas e consequências
e, assim, encontrar ferramentas para resolver o que está atrapalhando. Ou seja,
temos que dar nome a elas: por exemplo, a angústia muda a respiração, pode
causar falta de ar, fazer com que a pessoa chore sem motivo específico. Já o
medo é aquilo que tira sua vontade de sair da cama de manhã, aquela coisa de
disparar o coração quando toca o telefone, de encontrar desculpas para não sair
de casa. A solidão faz o passado ficar mais bonito que o futuro, abala a auto
estima a ponto das pessoas ficarem se questionando em relação às próprias
decisões", explica.
Atenção aos sinais
O trabalhador precisa ficar
atento aos sinais do corpo físico. Insônia, dificuldade de se concentrar,
distúrbios intestinais e mudanças de humor são alertas de que algo pode estar
incomodando. No campo profissional, problemas para entregar resultados e
prazos, que antes eram cumpridos sem dificuldade, também são pontos em que os
líderes devem ficar de olho. Fernando Dias, consultor de Recursos Humanos e
especialista em planejamento de carreira, lista algumas das ações que podem
ajudar a identificar as emoções do ambiente corporativo:
"Perceber a fisionomia do seu colaborador nas reuniões, observar se há uma
falta de atenção geral, com muitos desencontros e dúvidas que antes não
existiam, ou eram incomuns. Essa foi uma mudança que atingiu a todos e estar
atento à saúde mental do seu funcionário é importante: converse com ele,
pergunte como está a adaptação e tenha flexibilidade, desde interrupções por
conta de problemas domésticos até mudanças de horário", explica.
É só a partir da identificação de como está esse ambiente e essas pessoas que
podemos partir para um plano de ação, reforça Natasha. "E aí, o céu é o
limite, existem muitos recursos para motivar e contornar. No entanto, sem o
diagnóstico correto, acabamos por dar o remédio errado. Uma boa forma de
entender onde está a sua sensação ou, no caso de líderes, a sensação de seu
funcionário, é através da teoria da Pirâmide de Maslow", afirma Natasha.
O conceito citado pela especialista descreve uma "hierarquia de
sensações", desde as mais básicas, que são a base da pirâmide e estão
ligadas apenas à sobrevivência, até as mais elaboradas, no topo da pirâmide,
ligadas a satisfação pessoal e profissional. Eles são: auto-realização,
auto-estima, relações sociais, relações de segurança e necessidades
fisiológicas:
"Ou seja: se você vê o seu funcionário, ou se vê, em uma das camadas mais
básicas, já entende o que está acontecendo e o que está faltando para, digamos,
subir uns degraus. Se você tem medo, não tem segurança profissional, por
exemplo, será difícil se motivar, ou motivar seus funcionários, para além do
básico. Se você está se sentindo solitário, não consegue socializar, talvez
essa seja a razão para a ansiedade Se você não tem segurança profissional, por
exemplo, será difícil se motivar, ou motivar seus funcionários, para além do
básico. Se você está abaixo da parte da socialização, talvez essa seja a razão
para a ansiedade e daí podemos pensar em soluções: talvez tentar encontrar
alguém ao vivo, mas respeitando as medidas de segurança? Voltar a trabalhar
presencialmente apenas uma vez por semana?", exemplifica a especialista.
A escritora Tonia Casarin, autora do livro ‘Tenho Monstros na Barriga’ que
ajuda crianças e pais a identificarem e nomearem as emoções, afirma que o
próximo passo é perceber também qual a situação que causa o desconforto e
entender que, em geral, "refletir sobre o que você pode controlar versus o
que você não pode controlar pode te ajudar a diminuir a ansiedade":
"O medo costuma ser uma emoção que surge quando percebemos uma ameaça. Se
pergunte qual ameaça é essa. Faz sentido sentir medo? O que lhe causa medo?
Quando ele começa? Esses sentimentos podem surgir até mesmo após ler ou ver
notícias, por exemplo, sobre casos de Covid. O sentimento de autoestima baixa
pode estar relacionado ao tempo maior nas redes sociais. Há pequenas ações que,
quando percebemos o que estamos sentindo exatamente, conseguimos associar ao
causador, e aí, buscar estratégias para aliviar essas sensações", comenta.
Postar um comentário
Gostou da matéria? Deixe seu comentário ou sugestão.