Presença
digital: solução para impulsionar vendas
A crise provocada pela pandemia de coronavírus forçou os
empreendedores brasileiros a buscar a inovação como forma de tentar reverter a
perda de faturamento decorrente da menor circulação de pessoas e das mudanças
de hábitos de consumo da população. Nem mesmo setores tradicionais ficaram de
fora. Uma pesquisa feita pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio
Vargas, mostrou que os empresários do setor de artesanato foram os que mais
usaram o Whatsapp como ferramenta de venda (92%), entre todos os segmentos da
economia. Os pequenos negócios do artesanato aparecem em segundo lugar quando o
assunto é lançamento de novos produtos ou serviços. No levantamento do Sebrae,
53% desses empresários criaram novidades desde o início da crise, perdendo
apenas para os serviços de alimentação, onde esse percentual foi 56%.
Os empresários do artesanato também aparecem em segundo lugar
quando o tema é uso de meios digitais (redes sociais, internet, aplicativos
etc.) na hora da venda. No levantamento feito em novembro, 83% dos empresários
já usavam esses recursos, perdendo apenas para as empresas da moda (84%). Esse
dado representa uma evolução. No levantamento realizado em maio, 77% dos
entrevistados declararam usar meios digitais para venda.
Há 10 anos o setor vem apresentando um crescimento gradual no uso
de redes sociais para fins comerciais e, durante esse período pandêmico, a
digitalização se tornou ainda mais necessária. O cancelamento de parte dos
grandes eventos, como feiras de artesanato, afetou diretamente a principal
fonte de renda do setor. “Os artesãos buscaram esses canais digitais com muita
agilidade nesse momento e, com apoio das instituições que atuam no setor, os
modelos de negócios estão sendo customizados para realidade do segmento”,
explica a coordenadora nacional de negócios de artesanato do Sebrae, Durcelice
Mascêne.
Esse mercado tem uma peculiaridade muito forte: a proximidade na
relação entre clientes e artesãos. O contato direto com o artista e com a obra
são fundamentais e fazem com que o setor tenha características bastante
específicas. Por isso, Durcelice acredita que um modelo híbrido de atuação,
onde as duas frentes (presencial e online) será o modelo de atuação dominante,
mesmo após o fim da pandemia. Porém, a coordenadora faz um alerta aos
empreendedores artesãos que estão comercializando seus produtos de maneira
virtual. "A venda do artesanato nessas plataformas e redes digitais
precisa ser de forma personalizada, adequada a essa realidade”,
explica.
Em Pelotas (RS), a associação Redeiras, formada por nove artesãs,
tem apostado nos conteúdos digitais para ampliar as vendas de acessórios femininos,
como bolsas e brincos fabricados, principalmente, com redes de pescas de
camarão descartadas. O grupo possui um site desde 2010, mas atualmente também
estão nas principais redes sociais, como Facebook e Instagram, para dar mais
visibilidade ao trabalho.
De acordo coma artesã Rosani Schiller, responsável pela área
comercial da associação, 90% da fonte de renda ainda é proveniente de vendas
para o atacado, porém a presença online tem trazido novas oportunidades de
negócios, a partir do uso de novas ferramentas. Segundo ela, as redes sociais
ajudaram a compensar parte das quedas nas vendas durante a pandemia. “É o
caminho para trazermos novos clientes e se manter no mercado, por isso temos
que estar atualizados e nos preocupar constantemente com a criação de conteúdo,
pois é a única forma de nos mantermos vivo hoje”, avaliou.
Evento híbrido
Alinhado a esse modelo híbrido de negócios, em dezembro de 2020
foi realizada a última edição da 31ª Feira Nacional de Artesanato - Rotas do
Brasil. Organizada pelo Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor
(Centro CAPE), com apoio do Sebrae, o evento trouxe uma novidade alinhada às
tendências desse mercado: uma edição virtual. Além da versão presencial, que
reuniu 1.5 mil expositores e 30 mil visitantes, espalhados pelos seis dias de
duração, o evento ainda pode ser conferido de maneira virtual.
Isso porque a organização fez uma gravação virtual, em 360 graus,
das dependências e, por meio de interatividade, as pessoas podem caminhar pelos
corredores, entrar nos estandes, contatar os artesãos, além de ver e comprar os
produtos pelos quais se interessarem. O feito é inédito no mercado e tem por
objetivo facilitar o acesso e a busca do público por produtos e artesãos, uma
vez que a pandemia tem afetado muito esse mercado. Para acessar o evento, basta
entrar no site: https://www.eravirtual.org/feira/
A presidente do Centro CAPE, Tânia Machado, explica que a
digitalização é fundamental para o reaquecimento do setor e, por isso, foi
feito um enorme esforço para que o evento também fosse virtual. “Os artesãos
estão chegando à conclusão de que vão ter que partir para esse mercado da web,
não tem jeito”, afirma. Segundo a executiva, a ideia é que esse projeto virtual
aconteça todos os anos daqui para frente.
(Edição: 02/03/2021)
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