Dr. Eduardo Birman |
Gisele Oliveira - Especial Petrópolis em Cena
Ainda sem muitas informações sobre o novo Coronavírus, cientistas ao redor do mundo se unem em um mesmo propósito: entender, identificar e paralisar a disseminação deste vírus que tem provocado tantas mortes. Com mais de 11 milhões de pessoas curadas no Brasil, até o momento, a preocupação continua, pois, muitos pacientes estão apresentando sequelas neurológicas e psiquiátricas. Alguns estudos revelam que até 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma até quatro meses depois do fim da infecção causada pelo vírus.
As perguntas sobre como a pandemia e a contaminação pelo vírus afetam o comportamento humano estão longe de serem respondidas. Ainda não é possível ter certeza a respeito dos mecanismos psicológicos e neurobiológicos diretamente associados à pandemia de forma geral (incluindo o isolamento, as medidas restritivas, o recesso econômico) e a contaminação, com suas consequências, desde a forma assintomática e leve, até as que ocorrem de maneira mais grave, levando muitos pacientes a serem internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
“A pandemia gera sensação de insegurança e instabilidade com semelhanças às grandes catástrofes. A maioria das pessoas encontra-se em um estado de tensão que pode trazer agitação, muita ansiedade, insônia etc. Outras podem desenvolver insegurança, dificuldade de concentração e se sentirem paralisadas pelo medo constante e contínuo do perigo. O surgimento dessas sensações pode desenvolver depressão, sintomas obsessivos compulsivos, compulsão alimentar ou perda de apetite e síndromes ansiosas (como a Síndrome do Pânico, por exemplo). Já os que foram contaminados podem desenvolver, principalmente, quadros depressivos e estresse pós-traumático”, explica o médico Eduardo Birman, Psiquiatra e professor das disciplinas de Saúde Mental e Psiquiatria e Psicopatologia da UNIFASE/Faculdade de Medicina de Petrópolis.
Não são raros os casos em que pessoas acometidas pela doença tiveram sequelas após o período de recuperação. Os especialistas explicam que os pacientes que foram contaminados apresentam alguns sintomas, principalmente, nas funções cognitivas (como perda da memória recente, dificuldade em lembrar de palavras ou de como se executa uma tarefa que antes era habitual).
“Especialmente para as pessoas que já tinham um quadro psiquiátrico prévio, o risco de perderem os bons resultados que já tinham obtido e retornarem com seus sintomas é muito frequente. O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e quadros depressivos e/ou ansiosos têm sido a tônica. No caso do surgimento de sintomas psicológicos ou psiquiátricos, o acompanhamento com psicoterapia é indicado. As falhas de memória devem ser cuidadosamente avaliadas e a terapia de reabilitação cognitiva pode ser de grande ajuda. A farmacoterapia, direcionada para a amenização de sintomas ansiosos e depressivos, só deve ser realizada por profissionais médicos especializados”, destaca o psiquiatra.
O médico explica que os pacientes que apresentaram hipóxia - diminuição do aporte de oxigênio para vários órgãos, inclusive o cérebro - é provavelmente uma das principais causas de sequelas neuropsiquiátricas. A chamada tempestade inflamatória pode se refletir no aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, resultando no risco de desencadear um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
“Minha amiga contraiu o vírus e não tive contato com ela no período, apenas por mensagem no celular. Como somos muito próximas, após passar o tempo de quarentena, fui até a casa dela para ver como estava. Chegando lá, ela simplesmente não me reconheceu. Somos amigas íntimas, há mais de 20 anos. Nos falávamos praticamente toda semana. Ela era uma pessoa ativa, que sempre viajava, saia com os amigos, muito culta e animada. Agora, está tendo que ficar com uma técnica de enfermagem. É realmente uma situação muito triste”, conta a doméstica, Rosana Batista.
Se os tratamentos necessários no pós-COVID curam ou não as sequelas, ainda é muito cedo para a ciência responder. O importante é que as pessoas busquem atendimento adequado, sempre de profissionais que atuam no campo da saúde mental, para adequada avaliação e acompanhamento.
“Infelizmente, não são raras as sequelas neurológicas da COVID-19. Existem estudos mostrando que até um terço dos casos de pessoas contaminadas pelo vírus apresenta sequelas neurológicas. Felizmente, a maioria de forma branda, com quadros de ansiedade e de depressão. Raramente surgem situações mais graves, como síndrome de Guillain-Barré, doença em que o sistema imunológico ataca os nervos,uma polineuropatia que leva à paralisia generalizada, quadros de encefalite, isquemia cerebral, entre outros”, frisa o neurologista Dr. Carlos Augusto Nunes, médico cooperado da Unimed Petrópolis.
Alguns sintomas mais leves, como dores de cabeça, a perda do olfato e do paladar, tendem a ser resolvidos com o tempo, sem a necessidade de intervenção médica. No entanto, é preciso estar atento, pois o vírus também pode causar sequelas neurológicas, reversíveis ou não, dependendo do quadro do paciente.
“Caso a pessoa tenha uma sequela neurológica apresentada, por exemplo,se tornou ansiosa ou depressiva, geralmente é reversível com tratamento médico adequado. Agora, existem sequelas que muitas vezes não são reversíveis ou totalmente reversíveis, como é o caso da síndrome de Guillain-Barré, quadros de encefalite e de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Não tive experiência pessoal com esses tipos de casos mais graves, mas na área médica nós sabemos que podem ocorrer.Que eu me lembre, até hoje, só encontrei um caso de sequela grave de uma senhora que teve COVID e ficou internada na UTI, apresentando quadro de dificuldade de cognição relacionada à memória”, finaliza o neurologista.
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