Por Gisele Oliveira - especial Petrópolis em Cena
Quando o assunto é amizade, todo mundo tem um referencial. Seja de uma relação que foi construída desde a infância, no próprio seio familiar ou no período escolar, na formação acadêmica, no ambiente de trabalho, na mesa de um bar ou até mesmo de forma inesperada durante uma viagem. Você já logo pensou em um amigo, não é verdade?
De fato, a relação de amizade é tão valiosa que ganhou destaque nas Sagradas Escrituras "Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade...",Eclesiástico 6:14-17.
Neste Dia do Amigo, você vai conhecer uma história diferente, que começou no ambiente escolar, durante o Ensino Médio, e ganhou um rumo inusitado. Sabe aquela famosa frase: ‘você pode contar comigo em todos os momentos?’Então, nessa amizade construída através de belos encontros da vida, André e Max revelam o valor do verdadeiro laço de amizade.
André tem uma doença chamada glomerulonefrite crônica, uma enfermidade que ataca severamente as funções renais, uma espécie de inflamação dos glomérulos dos rins. Explicando de forma simples, a doença faz com que os rins deixem de exercer sua função no corpo humano – que é filtrar o sangue, removendo todos os resíduos tóxicos presentes na circulação e equilibrando os líquidos do organismo. Então, a pessoa acometida pela doença depende de uma máquina de hemodiálise para sobreviver.
“Estudamos juntos durante o ensino médio. Por coincidência do destino, anos depois comecei a namorar a prima dele, que é a minha esposa. Tínhamos uma amizade bem sincera e bacana. Hoje, nós nos consideramos irmãos. Eu acompanhava a rotina do André há mais ou menos dois anos. Via a ida e vinda dos familiares em comboio para os hospitais, fazendo os exames. Um dia, conversando com a minha esposa,decidi fazer os exames, pois nossa compatibilidade sanguínea era similar. Ela topou com receios, mas respeitou a minha decisão e apoiou. Conversei com a irmã do André sobre as possibilidades e o procedimento cirúrgico. Pedi para que ela não contasse a ele a minha intenção. Ele já estava muito debilitado, em um estágio bem difícil, desanimado com toda a situação”, comenta o eletrotécnico, Max de Souza Machado.
O que a princípio seria bem simples, se tornou um desafio. Max foi reprovado nos primeiros exames, mas não desistiu. Ele agarrou a possibilidade de poder ajudar o amigo e fez, literalmente, tudo o que estava ao seu alcance para estar apto a doar o rim para o amigo.
“Sempre digo que eu nunca fui compatível com ele, foi Deus que me tornou compatível. Quando fiz os exames, fui reprovado, pois estava 12 kg acima do peso e minha pressão estava alta. Era próximo das festas de final de ano. Insisti com o médico e ele me deu uma meta.Voltar em fevereiro, com pelo menos 12kg a menos, para fazer um mapa da minha pressão arterial. Fiz uma reeducação alimentar, acompanhada de corridas e exercícios. Quando retornei, o resultado do meu exame de pressão deu positivo e eu estava 13kg mais magro. Nesse momento, o médico soube que tudo daria certo e nós também”, conta Max.
Somente após receber a notícia que, de fato, poderia doar o órgão ao amigo, Max entrou em contato com o André para informar sobre a sua iniciativa e prontidão para ajudá-lo a recuperar a sua qualidade de vida.
“Max é um ser humano desprendido das coisas terrenas, que me oportunizou voltar a viver. Tornou-se, verdadeiramente, um grande irmão para mim; um exemplo de ser humano, uma pessoa que traz luz àqueles que o cercam. Quando soube que o Max poderia ser meu doador, estava me encaminhando para o terceiro ano de tratamento dialítico (hemodiálise), num estado físico e psíquico muito debilitado. Naquela oportunidade, alguns dos meus familiares próximos haviam feito os testes para doação dos rins, mas uns não foram compatíveis e outros não puderam – em razão de algum problema de saúde. Numa certa tarde, Max, inesperadamente, me ligou dizendo que seria o doador. Naquele momento, eu disse para que ele pensasse melhor, pois a cirurgia teria alguns riscos. Todavia, Max estava firme em seu propósito de doar. A partir de então, começaram os testes de compatibilidade para doação. A todo momento, via no olhar do Max sua alegria em poder colaborar com a minha recuperação.
O procedimento de transplante renal é muito complexo. Tivemos que ir inúmeras vezes ao Centro Médico para realização de testes e avaliações. Max sempre se mostrava atento e esperançoso de que tudo daria certo”, explica o advogado, André Couto de Oliveira.
No dia da cirurgia, uma mistura de sentimentos envolvia amigos e familiares, afinal, um procedimento cirúrgico sempre envolve riscos.
“Ficamos em um quarto com algumas pessoas e fizemos bons amigos naquele lugar. Fomos tratados pelo pessoal do hospital como se fôssemos de casa, um tratamento muito humano.Os primeiros dias pós-cirurgiaforam muito dolorosos. Brincava com a minha esposa dizendo que agora eu entendia as dores pós-parto. Como não consegui parar de falar após a cirurgia, tive muitos gases”, brinca Max.
Uma coisa é certa, há mais de sete anos após a cirurgia e com a possibilidade de voltar a ter a vida normalizada, sem depender de uma máquina,além de saber que sempre poderá contar com um amigo de verdade,André retomou suas atividades pessoais e profissionais. Hoje, ele segue um novo caminho com muita gratidão.
“A cirurgia foi um sucesso. A função renal permanece estável até hoje. Faço regularmente acompanhamento médico em Juiz de Fora, tudo está em conformidade. A amizade verdadeira consiste em compartilhar dos sonhos do outro, em suportar suas alegrias e tristezas. O amigo é aquele que cuida, que ampara, que cativa, que não mede esforços para estar por perto. O amigo é aquele que ama. Eu sou muito grato pela vida e pela amizade do Max”, frisa André.
Para finalizar essa história, perguntei ao Max: como é para você ver o seu amigo recuperado e seguindo em frente?
“Cada dia que passa é um motivo para levantar da cama e dar graças a Deus pelo dom da vida e pela possibilidade de experimentar um pouco dessa grandeza de fazer algo tão importante por alguém. Para mim, a vida não tem sentido se eu não puder fazer algo para ajudar alguém a se reerguer. Uma coisa bacana foi que no dia da cirurgia era comemorado o Dia Mundial do Doador de Órgãos. Tem uma música que diz ‘a amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir’. Para mim, ser amigo não é simplesmente doar um órgão, mas sim doar a vida”, respondeu Max.
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