Medicina Veterinária Géssica Araújo |
Especialista alerta para angústia da separação em cães no retorno às atividades presenciais de seus tutores
Os cães interagem com seres humanos há mais de 14 mil anos, adaptando-se às mudanças, desenvolvendo profundas ligações com seus tutores, um forte laço emocional que beneficia todas as partes envolvidas. Segundo Alexandra Horowitz, autora do livro “A Cabeça do Cachorro”, o simples contato físico com os cães é capaz de promover redução de estresse e aumento da sensação de bem-estar nos humanos, além de proporcionar impressões de relaxamento aos bichos em questão.
Essa relação tornou-se mais próxima durante o período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19, já que os bichinhos e seus tutores ficaram ainda mais próximos com a reclusão para evitar a proliferação do vírus. Os cães hoje podem ser considerados como membros da família e estão diretamente em contato com seus tutores, diferente dos cenários vistos na década de 1980, quando os cachorros assumiam funções protetivas, de guarda, isolados nos quintais das residências.
“Assim como seres humanos, os cachorros são animais muito sociáveis, adorando conviver em grupos. Os meses de isolamento intensificaram a relação tutor-cão. Horas de brincadeiras, atenção, atividades feitas sempre em conjunto logo foram positivamente associadas pelos cães, que se adaptaram a essa nova realidade. Entretanto, com o retorno às atividades presenciais, muitos animais têm apresentado angústia e/ou ansiedade pela separação, um distúrbio comportamental relacionado ao sofrimento dos cães com a distância dos tutores”, explica a professora do curso de Medicina Veterinária da Estácio, Géssica Araújo, que também ressalta os sinais que podem ser percebidos para identificar a doença no pet.
“A ansiedade pode surgir pela modificação abrupta da rotina diária desses cães, com a ausência do tutor sem que houvesse o tempo necessário para adaptação. Fique atento aos sinais de que seu cão pode estar sofrendo dessa síndrome. Latidos ou choros excessivos comparados ao comportamento comum do dia a dia do cão, a falta de interesse por brinquedos preferidos, excesso de lambedura das patas, mordeduras ou arranhaduras em móveis, portas, paredes são sinais de alerta para esse problema. Muitos animais deixam de comer e podem até desenvolver outras doenças. Em várias situações os casos ficam tão sérios que os cães podem causar autoferimentos”, enfatiza a médica veterinária.
Todos esses comportamentos podem estar mais presentes naqueles animais adotados durante o isolamento da pandemia, pois a única realidade que conhecem é a de convivência contínua com os tutores. Para que eles se adaptem à nova rotina, os tutores devem ter paciência e tentar ao máximo fazer essa mudança de forma gradual, associando as saídas/chegadas em casa à atos comuns, sem excesso de atenção, despedidas ou quaisquer atos que gerem a ansiedade da espera pelo retorno. Uma recomendação também é procurar ajuda de adestradores profissionais, que auxiliarão esse animal na nova rotina e, principalmente, procurar seu médico veterinário que atuará no controle da ansiedade por meios de várias terapias, encontrando a melhor alternativa que funcione para o cão e seu tutor.
Mais dicas
Fazer o animal gastar energia física, se possível mantendo uma rotina ativa diária, pode ser vital para ajudar os animais a aliviar a ansiedade. Passeios externos para que o bichinho possa se sentir mais livre, brincadeiras que mesclem exercícios e atividades recreativas com recompensas são excelentes maneiras de contribuir para o bem-estar dos pets. Comedouros e brinquedos educativos são formas eficazes de estimular a extravasar a energia mental, que também é relevante para que os níveis de estresse sejam reduzidos.
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