Luis Martins Silva em sua nova casa / Foto: divulgação |
As arrecadações começaram no dia seguinte à enxurrada com doações de mais de mil alunos e amigos de todas as partes do Brasil e do mundo
“Até hoje tenho pesadelos. A ficha ainda não caiu. É brabo. É cruel. Amigos de 20 anos serem levados por uma força estúpida. Vi o terror de perto naquele dia”. O relato emocionado é de Luis Martins Silva, pedreiro e ex-morador do bairro Vila Felipe, no Alto da Serra, onde os deslizamentos arrastaram dezenas de casas. Com a ajuda do Instituto Jonas Masetti, ele e outras famílias podem recomeçar suas vidas com mais dignidade. Num primeiro momento, com as doações dos alunos e amigos do professor Jonas, a instituição prestou auxílio emergencial com cestas básicas, kits de limpeza e higiene, peças de roupa e de roupas íntimas para a população atingida pela chuva. Agora a entidade acolhe famílias com o pagamento de três meses de aluguel em um local seguro, e com a doação de kits para casa, compostos por geladeira duas portas, fogão quatro bocas, tanquinho (10 kg) para lavar roupas, uma cama de casal box e uma de solteiro box.
“Até agora foram três famílias realocadas. Nosso trabalho vai continuar. Nessas últimas semanas visitamos ongs, abrigos e igrejas onde os donativos estavam sendo armazenados. E por ver a situação dos abrigos em Petrópolis todos lotados, onde dezenas de famílias utilizam o mesmo espaço e o mesmo banheiro, por exemplo, decidimos ampliar essa ajuda para trazer mais dignidade a esses petropolitanos. Fizemos questão de visitar as famílias para ter certeza de que estariam em segurança. Já no dia seguinte às chuvas,nossos alunos e amigos formaram uma corrente linda de solidariedade. Foram mais de mil doações, de todas as partes do Brasil e do mundo. O pagamento de três meses de aluguel vai ser essencial e o tempo necessário para que essas famílias possam começar a receber, do poder público, o auxílio do aluguel social”, contou Rodrigo Ribas, diretor do Instituto Jonas Masetti, que está à frente do emprego dos recursos levantados na campanha da instituição.
Na visita à nova moradia de Luís, a equipe do instituto já encontrou o pedreiro pintando sua casa nova, no Dr. Thouzet. Sua residência antiga não existe mais. Os deslizamentos de terra levaram. Levaram também muitos amigos queridos. Emocionado, ele contou alguns dos momentos que viveu em 15 de fevereiro. “Eu estava em casa quando os primeiros deslizamentos aconteceram. Ouvi um estrondo e saí para ver o que tinha acontecido. Em seguida, mais estrondos e deslizamentos. Consegui socorrer vários vizinhos que foram atingidos pela lama, inclusive um bebê de 8 meses. Mas não consegui salvar todos. Inclusive um rapaz, que estava nos ajudando a resgatar, não sobreviveu. Uma barreira pegou eles de surpresa. Quando escureceu tudo ficou mais difícil porque a rede de energia elétrica também foi atingida. Se a chuva tivesse sido à noite, teria levado muito mais pessoas”, disse Luís, que é sobrevivente da tragédia de 1988. “A catástrofe deste ano foi muito pior e deixou muitos petropolitanos traumatizados”, lembrou.
“O trabalho de instituições sociais privadas é imprescindível neste momento, uma vez que o poder público não consegue dar atenção a situações pontuais. Quando se trabalha com o intuito de entregar o melhor ao próximo, de servir, trazendo honestidade e transparência, o trabalho se torna de grande valor a quem precisa, sustentável e traz credibilidade para quem quer doar. Colocamos recursos próprios na campanha, mas sem a ajuda dos nossos alunos esse apoio às famílias que precisam recomeçar de forma digna seria impossível”, destacou o professor de Vedanta Jonas Masetti.
O pedreiro Cléber da Silva, que também morava no Vila Felipe, deixou o abrigo na semana passada e já está morando em local seguro no Cascatinha. No dia das enchentes, ele voltava do trabalho e se lembra dos momentos de desespero. Ele estava dentro do ônibus e uma barreira atingiu o coletivo, causando pânico nos passageiros. Ele contou que perdeu muitos amigos e não é a primeira vez que fica desabrigado. Nas fortes chuvas de 1988 também perdeu sua moradia. “Agradeço de coração ao professor Jonas e a todos os que colaboraram coma oportunidade de poder recomeçar a vida com esse suporte. Se dependêssemos só do governo ainda estaríamos dentro do colégio. Agora é momento de superação pela perda dos amigos e de se reerguer”, disse Cléber.
Na ajuda emergencial às famílias atingidas pela tragédia, o Instituto Jonas Masetti entregou mais de duas toneladas de alimentos a diversas instituições e igrejas que fizeram a distribuição às famílias desabrigadas e desalojadas. Além disso, houve doação de roupas, roupa íntima, fraldas, ajuda à família do professor e triatleta de Petrópolis Nilson Oliveira, que perdeu a vida no Morro da Oficina e doação de suplemento alimentar especial para o bebê Bernardo, de uma família de Corrêas. Ele nasceu pré-maturo e com intolerância à lactose em meio à tragédia.
Homenagem a Sarah Walsh
“Ela era uma pessoa boa demais para morrer. Tem algumas pessoas na vida que são incríveis pelo coração que têm. E Sarah era uma delas. Temos memórias muito felizes. Esse instituto e esse trabalho têm muito da alma de Sarah”, contou Jonas Masetti ao lembrar do trabalho de Sarah Walsh ainda no início do Instituto Vishva Vidya. Uma homenagem póstuma foi publicada no perfil do Instagram do professor para contar sua passagem marcante e significativa na instituição. A história de Sarah, que morava com seu marido no Morro da Oficina, ficou conhecida pelo padre Alan Rodrigues que celebrou o casamento e realizou o velório do casal.
Masetti conta que Sarah nutria todos com amor, esperança e carinho. Não desistia de ninguém. Era forte, mas muito sensível. Era ativista. Quando teve início a pandemia, foi para o front, enquanto estavam todos se escondendo. “Tenho certeza que onde ela estiver, vai estar vivendo o que era Sarah Walsh: abençoando, protegendo e sensibilizando. Nós vamos continuar fazendo o trabalho que começamos juntos. Por você e por todas as pessoas que precisam desse trabalho”, declarou Jonas, no vídeo que finaliza com a frase: “Estaremos sempre conectamos pelo coração”.
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