Norhan Sumar |
* Norhan Sumar
Vocês já pararam para pensar sobre quantas transformações nós experimentamos nas últimas décadas? Transformações culturais, na forma de nos comportarmos, na maneira como nos relacionamos com a vida, com a sociedade e com nossos pares. Transformações que resultam no acesso à uma quantidade avassaladora de informações, na incorporação tecnológica em todas as áreas de nossas vidas e a possibilidade de conexão com o mundo todo em um tempo tão veloz que o faz parecer pequeno.
Essas transformações recentes na forma como vivemos, nos comportamentos e nos relacionamentos já seriam suficientemente boas para refletirmos sobre como isso pode impactar, positiva ou negativamente, na nossa saúde e como nós temos respondido a isso. Ou seja, como cuidamos da nossa saúde em um contexto de tantas transformações?
A questão é que, considerando os últimos dois anos, fomos tensionados a pensar ainda mais sobre esse processo de mudança, cujo pano de fundo foi a crise global provocada pela pandemia de Covid-19. Se, ao longo da história da humanidade, temos informações de pandemias mais catastróficas e letais, nessa experiência recente, vivemos algo novo: a informação transmitida quase em tempo real, de todos os lugares do mundo e também para o mundo todo. Ficamos em casa, isolados, cumprindo as medidas de segurança propostas pelos especialistas em Saúde Pública, mas jamais estivemos alheios a tudo que acontecia no mundo. Um volume imenso de informações, que variavam entre fatos, suposições, notícias falsas, conspirações, dicas de como se manter ativo e produtivo, invadiam nossas telas a todo o tempo. E o que apreendemos com tudo isso é o ponto chave desse debate.
O questionamento sobre como ficarão nossas vidas em um contexto de “novo normal” é necessário. Antes disso, nos cabe ainda perguntar: que “novo normal” seria esse e o que ele traz de mudanças para o nosso cotidiano agora que vivenciamos uma flexibilização das medidas de segurança e uma retomada gradativa das atividades e da vida como estávamos acostumados?
Colocando uma lente de aumento nessa conjuntura de mudanças apenas para o nosso cenário local, na cidade de Petrópolis, ainda nos vale considerar as tragédias recentes, em fevereiro e março de 2022. Desastres naturais que devem ser analisados sob a égide do comportamento humano também. Que mudanças climáticas resultam da forma como estamos vivendo hoje? Que medidas poderiam ser tomadas pelo poder público, em termos de política de uso e ocupação do solo, moradia e escoamento das águas da chuva contribuiriam para evitar uma tragédia dessa magnitude? E, uma vez que tenhamos passado por tamanha catástrofe, como cuidaremos uns dos outros agora? Onde e como a Enfermagem se insere nesse processo de cuidado?
São tantas as perguntas que precisam de respostas, ou ao menos de investidas da ciência e da vida para respondê-las, que me parece o momento do questionamento, do debate, do diálogo em direção ao conhecimento – de nós, do outro, da sociedade. Afinal, o que era normal antes da pandemia e das tragédias que mudou agora? O que normalizamos na vida e no cotidiano que não havíamos normalizado antes? Essas mudanças impactam na forma como cuidamos da nossa saúde? E, do ponto de vista de um profissional de saúde que sou, essas mudanças impactam na forma como eu cuido das pessoas?
A ideia de normalidade nos remete a padrão. Sinaliza que determinados comportamentos, respostas e modos de agir e pensar estão dentro do esperado e aceito (ou dentro do normal). Ainda nessa perspectiva, o que é normal para a ciência pode não ser normal para você ou para mim. O que normalizaremos daqui para a frente, seja por aprendizado com as experiências recentes ou por inércia e não-ação diante das transformações que vimos acontecerem, mudarão a forma como nos cuidamos e a forma como cuidamos das pessoas.
A Semana de Enfermagem 2022 da UNIFASE, que será realizada on-line nos dias 10 e 11 de maio, se lança nesse mar de questionamentos para refletir sobre que normal pretendemos. Sobre que horizonte desejamos após dois anos de pandemia e após os desastres naturais que assolaram nossa cidade. Se os esforços para reflexão e construção do novo normal trouxerem para a humanidade e para a nossa comunidade mais cuidado, mais afeto, mais empatia, compreensão e ciência, então esse é o lugar da Enfermagem. Vamos pensar juntos?
(*) Enfermeiro sanitarista e professor da UNIFASE.
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