FOTO: ILUSTRATIVA


Marise Simões e Gisele Oliveira - especial Petrópolis em Cena

 

Uma doença que tem o nome muito conhecido, mas não recebe a devida compreensão da sociedade. Na maioria dos casos, as pessoas que enfrentam a depressão, além de terem que lidar com sentimentos confusos de solidão, abandono, tristeza profunda e uma angústia sem fim, também encontram dificuldades nas relações familiares e nos vínculos de amizades, especialmente, quando uma pessoa querida diz que a sua condição é uma frescura, que precisa ser forte para superar, que isso é passageiro, talvez falta de fé, entre tantas outras coisas, e não dão a devida importância ao quadro depressivo, doença real que gera tanto sofrimento e tem levado muitas pessoas a cometer o suicídio.

 

“Os episódios depressivos costumam estar acompanhados de mudanças no comportamento, tais como: falta de interesse, desmotivação e ausência de prazer em qualquer tipo de atividade. Além disso, também pode apresentar falta de energia, choro incontrolável, forte angústia e ideias de morte. Para ajudar uma pessoa que se encontra nessas condições, empatia e acolhimento são as atitudes mais importantes, além de auxiliar essa pessoa levando-a para fazer uma avaliação psicológica ou psiquiátrica, para que tenha a ajuda médica necessária em prol da sua recuperação”, explica Dr. Eduardo Birman, médico psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP). 

 

Diante de um cenário de tragédia, como ocorrido em Petrópolis em fevereiro e março deste ano, o especialista destaca a necessidade de especial atenção em relação à saúde mental. Com tantas perdas de entes queridos, bens materiais e a incerteza de como será o recomeço após essa fatalidade, muitos moradores da Cidade Imperial enfrentam quadros graves de ansiedade e depressão.

 

“É preciso que amigos e familiares estejam atentos e deem especial atenção às pessoas que passaram por essas tragédias na cidade. Os primeiros sinais da depressão e de um quadro de ansiedade se revelam nas alterações de humor, no ânimo, muitas vezes acompanhado de irritabilidade fácil e total ausência de prazer em vários aspectos da vida. Dificilmente uma pessoa depressiva consegue se restabelecer sem o auxílio de profissionais qualificados na área de saúde mental. Por isso, estar próximo e auxiliar essa pessoa para que encontre um especialista é a melhor forma de evitar que algo mais grave aconteça. Se o Transtorno do Estresse Pós-Traumático for confirmado, a necessidade de um acompanhamento especializado é fundamental”, destaca o psiquiatra.


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Uma senhora que não quis ser identificada na matéria, relatou momentos de horror quando ficou soterrada. O dia 15 de fevereiro de 2022 ficou marcado na história dela e de tantas outras famílias petropolitanas como um dia de extremo sofrimento. Ainda sentindo muitas dores nas pernas, ela conta que passa mal sempre que se recorda das cenas vividas. A incerteza de como será a vida a partir de agora e a espera para ser incluída em uma estrutura de atendimento público psicológico tem deixado ela e muitas outras pessoas angustiadas. Situação semelhante vive Monique, que após a tragédia se viu retornando a um quadro depressivo agudo e está aguardando por respostas do poder público.

 

“Eu moro na Rua dos Ferroviários, bem ao lado de onde ocorreu o deslizamento. Moro sozinha, mas divido o quintal com mais duas casas, onde moram a minha mãe, meu irmão e o meu sobrinho. No momento, o que mais afeta a minha saúde mental é a incerteza, a falta de respostas diante dessa tragédia. Tenho medo da chuva, de dormir e morrer soterrada. A tristeza pelos que partiram e, agora, além de tudo que passamos, temos que lidar com a total falta de empatia dos governantes. Precisamos de respostas e soluções”, enfatiza Monique.


Monique conta que a luta contra a depressão começou aos 18 anos de idade. Na época em que foi diagnosticada, buscou auxílio médico, realizou os tratamentos e não teve mais incidência. Agora, aos 40 anos de idade, tendo presenciado toda a tragédia do dia 15 de fevereiro de 2022, a doença retornou com mais intensidade.

 

Casa da moradora Monique, na Rua dos Ferroviários / Foto: Divulgação


“Eu fui diagnosticada com depressão e transtorno de ansiedade generalizada (TAG), mas fiz os tratamentos e fiquei bem, as crises desapareceram. Porém, desde a tragédia, as crises voltaram. Sou nascida e criada aqui. Perdi muitos amigos queridos, pessoas que me viram nascer, outras que cresceram comigo e muitos que vi nascer. Hoje, a ansiedade me paralisa! Convivo com o medo eminente da morte, a sensação de que algo ruim possa acontecer a qualquer momento, pensamentos acelerados, respiração ofegante e a sensação de que nunca mais isso vai passar. Todos os dias me deparo com esse cenário de guerra que ficou aqui. Eu tenho consciência de que só verei a luz no fim do túnel quando sair da minha casa (que está interditada). Não sei o que vai acontecer, pois busquei auxílio moradia no município, mas não obtive sucesso. Depois disso tudo, para realmente conseguir seguir adiante, creio que além das medicações, preciso fazer terapia”, destaca a cuidadora de idosos.

 


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Em nota enviada à imprensa, a Prefeitura Municipal de Petrópolis disse que desde o desastre ocorrido em 15 de fevereiro, logo nos primeiros dias, foram realizadas ações emergenciais de forma itinerante nos 24 abrigos provisórios abertos pelo município, em escolas municipais próprias e conveniadas, associações de moradores, igrejas católicas e evangélicas, dentre outros pontos com atendimentos especializados por assistentes sociais, enfermeiros, médicos psiquiatrias e psicólogos, além de ter sido criado o Comitê Operativo Emergencial para a Atenção Psicossocial pelo DSM e serem adotadas outras medidas de atenção à saúde mental da população.

 

A PMP também explicou que desde a tragédia, o Ambulatório de Especialidades em Saúde Mental Luciana Deolindo elaborou um Plano de Atendimento Emergencial voltado para as vítimas do desastre, tendo realizado o total de 428 atendimentos em Atenção Psicossocial, de fevereiro a maio deste ano. No CAPS Núbia Helena dos Santos, localizado em Itaipava, foram registrados 150 atendimentos às vítimas do desastre, no mesmo período, e 40 atendimentos às pessoas em situação de crise, que foram afetadas direta ou indiretamente pelo desastre. Já no CAPS Infanto Juvenil Sylvia Orthof, localizado no Centro de Petrópolis, foram registrados 31 atendimentos a crianças, adolescentes e seus familiares, vítimas do desastre.

 

Desde a tragédia, o CAPS Ad III Fênix apresentou aumento considerável no número de atendimentos aos pacientes em situação de crise, afetados direta ou indiretamente pela tragédia. Em 2021, foram realizados 160 atendimentos, entre os meses de janeiro a abril. Em 2022, o número saltou para 422 atendimentos, no mesmo período.

 

No CAPS Nise da Silveira, foram realizados 172 atendimentos, de fevereiro a abril deste ano. Segundo as informações da Prefeitura Municipal de Petrópolis, o quantitativo de psicólogos foi ampliado se estendendo para os bairros mais próximos à população atingida nas áreas de desastre, lotados nas Unidades Básicas de Saúde e nos Postos de Saúde com Estratégia de Saúde da Família, locais em que a população deve buscar auxílio. Os serviços de Atenção Psicossocial destacam que estão atendendo mais demandas de quadros de depressão grave, ansiedade acentuada, ideação suicida de um modo geral, inclusive com base também nos efeitos causados pela pandemia de COVID-19, assim como os motivados pelo desastre ocorrido no município este ano.

 

A equipe do Petrópolis em Cena entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Petrópolis solicitando um posicionamento em relação a atual situação dos moradores que sofreram com a tragédia este ano, inclusive sobre os locais que ainda correm riscos e estão interditados. No entanto, até o fechamento dessa matéria, não obtivemos resposta.


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