Dra. Ingrid Campos Moura, oncologista CTO / Divulgação


 


A crescente popularização dos cigarros eletrônicos joga luz sobre um problema que tem colocado os especialistas em alerta: a toxicidade na utilização de substâncias que podem causar danos irreparáveis ao pulmão e levar até mesmo ao câncer. Moda entre os mais jovens, a cancerologista do Centro de Terapia Oncológica (CTO), em Petrópolis, Ingrid Campos Moura, é taxativa ao alertar sobre a nocividade dos ‘e-cigarros’: “não é uma alternativa ao cigarro tradicional. O uso do cigarro eletrônico pode corresponder de 10 a 20 cigarros convencionais, então ele pode ser até mais prejudicial do que cigarro convencional”, diz.



A informação da médica vai na esteira de um estudo realizado pela Universidade de Nova York que aponta que os cigarros eletrônicos podem, assim como o tabaco comum, causar câncer de pulmão. Uma pesquisa realizada em ratos expôs grupos de roedores a três condições diferentes: um em uma câmara com vapor característico do e-cigarro; outro, com solventes; e o último, com ar filtrado. Nove dos 40 sujeitados ao vapor do cigarro eletrônico desenvolveram câncer de pulmão. Nos dois outros grupos, apenas um camundongo foi acometido com a doença. Os cientistas acreditam que os efeitos sejam semelhantes em humanos.



“O que vem sendo difundido é que os cigarros eletrônicos são alternativas e uma forma das pessoas que já fumam o cigarro normal, pararem de fumar. Mas isso além de falso tem um caminho reverso, eles aumentam em três vezes a possibilidade de um indivíduo querer usar o cigarro tradicional. E essa iniciação pode ser explicada pelo fato de que cigarros eletrônicos contendo nicotina podem levar à dependência dessa substância e à procura por outros produtos de tabaco”, explica Ingrid.



Normalmente, os e-cigarros são compostos por uma lâmpada de LED, bateria, microprocessador, sensor, atomizador e cartucho de nicotina líquida. Esta última é aquecida por uma pequena resistência, fazendo com que se torne vapor. Mesmo as opções vendidas como sendo menos prejudiciais, como os cigarros eletrônicos sem nicotina, não devem ser consumidas.



Relatório feito na convenção Quadro para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das estratégias da indústria para driblar as restrições e atrair jovens é colocar sabores no aparelho. É uma espécie de armadilha para fazer com que as pessoas se viciem em um produto muito lucrativo para um mercado ilegal.



“É preciso pensar no seu potencial danoso. Câncer de pulmão, tumores de cabeça e pescoço, câncer de boca, câncer de língua, outros de cavidade oral, faringe, laringe, bexiga e uma série de tumores que podem estar relacionadas ao tabagismo também estão relacionadas ao cigarro eletrônico porque também tem substâncias nocivas prejudiciais à saúde, além de outras doenças cardiovasculares, como por exemplo, infarto e AVC. Portanto é urgente que seja desestimulada a utilização do cigarro eletrônico de forma recreativa e, menos ainda, porta da saída para o fim do uso do cigarro tradicional”, alerta a especialista do CTO.



Apesar de a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, esses produtos são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou, ainda, podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 apontou que 0,6% da população já utilizava dispositivos eletrônicos para fumar no país, naquele ano.

 


O tabagismo é um dos principais fatores de risco evitáveis e responsável por mortes, doenças e alto custo para o sistema de saúde, além da diminuição da qualidade de vida do cidadão e da sociedade. Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo. A única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o uso desses produtos.



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