Nos últimos dois dias, o salão nobre do Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, foi palco de uma discussão importante: a prevenção ao suicídio. No encontro, foi promovida uma roda de conversa que teve como tema “Os diferentes olhares sobre o atendimento a casos de tentativas de suicídio”. O público presente foi recebido em um ambiente intimista, preparado especialmente para sensibilizar os profissionais por meio da leitura dramatizada de um depoimento sobre a depressão.

 

Nas linhas confessionais, o sofrimento de 300 milhões de pessoas em todo o mundo foi relatado para mostrar que a depressão é uma doença séria, que precisa ser tratada. A esquete, apresentada pela assistente administrativa, Anna Beatriz Martins, serviu como pano de fundo para uma troca de experiências que contou com a participação dos médicos, Jayme Eduardo e José Carlos Baldelim Santiago Junior; a psicóloga Jociane Gatto, coordenadora do setor de psicologia do Hospital; o enfermeiro Rennan Basílio; a assistente da pastoral, Rosane Santa Rita e a cientista social, Andrea Moreli.

 

“Falar é parte do caminho para a cura e entrar no mundo de quem sofre é a melhor maneira de falarmos sobre o assunto”, declarou a psicóloga, explicando que a intenção foi trazer para a roda de conversa pessoas que tinham experiências diferentes relacionadas à depressão e ao suicídio.

 

“Eu sou a prova viva de que falar cura”, declarou Rosane Santa Rita no início de seu depoimento. “Quando falamos, os sentimentos saem de dentro de nós. Tive muita dificuldade para aceitar que estava doente. Achava que a depressão não podia me atingir até que os sintomas foram piorando: medo, choro, falta de apetite, muito sono e dores profundas que me traziam a sensação de infarto. Eu não entendia o que estava acontecendo até que aceitei iniciar o tratamento”, lembrou a assistente da Pastoral.  

 

“Ainda existe muito preconceito a pacientes com quadros depressivos, mas não podemos desqualificar a dor do outro. A doença mental não aparece nos exames, mas precisa de tratamento. Precisamos acolher e conduzir o paciente de forma adequada. Quanto mais cedo começamos o cuidado, mais chance de sucesso”, analisou Jociane, lembrando do Protocolo de avaliação de risco de suicídio do HST.

 

Segundo o médico José Carlos Baldelim, 70% dos adoecimentos mentais começam com traumas na infância: “É preciso abordar o trauma, falar da dor, porque ela começa pequena, cresce e devora a pessoa. A tentativa de suicídio é uma resposta mentirosa de um cérebro doente. A chegada ao Pronto Atendimento pode ser o último grito de socorro, por isso, é importante criar estratégias de condução e formar os profissionais para que possamos ser anjos na vida dos outros”, afirmou, destacando que a ansiedade e a depressão aumentam os riscos de desenvolvimento de outras doenças clínicas, como a hipertensão e o câncer.

 

“Nós, como profissionais de Saúde, precisamos ter muito cuidado com a abordagem aos pacientes com quadros de doenças mentais porque não sabemos a realidade vivida por eles. Desenvolver a escuta é muito importante, porque quando escutamos o paciente, conseguimos fazer o encaminhamento adequado. Precisamos olhar para esses pacientes sem julgamento”, comentou o enfermeiro Rennan Basílio, que também atua no atendimento pré-hospitalar no SAMU.

 

A cientista social, Andrea Moreli, que lançou recentemente o livro “Um dia podemos ser só lembranças – Suicídio e pensamentos suicidas em estudantes de Medicina”, destacou a importância de desmistificar o tabu sobre o suicídio. “Culturalmente, seguimos a lógica da produtividade e não nos permite ter tempo de pedir ajuda. Precisamos quebrar esse círculo cultural e aprender a olhar e ouvir as pessoas que estão no entorno. É tempo de significar o que acontece conosco. Gente faz bem para gente”, avaliou.  

 

Para a técnica de enfermagem Daiana Wepler o evento foi de grande valia: “É maravilhoso ver como somos privilegiados em trabalhar em uma instituição que se preocupa não somente em cuidar do paciente, mas também de todos nós colaboradores. É muito importante nos cuidarmos para cuidar do outro e termos um olhar de cuidado um para com outros”.

 

“De todos esses eventos que ocorrem no ano, o mais difícil de gerar empatia na minha opinião é o Setembro Amarelo, porque como a depressão é uma doença abstrata, as pessoas julgam de maneira preconceituosa, dificultando a empatia. Precisamos expurgar esses preconceitos para que possamos ajudar”, disse o supervisor de Hotelaria, Daniel Marinho de Vasconcelos. 


 

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