A leptospirose é uma doença infecciosa, transmitida através da bactéria leptospira pelo contato, especialmente, com a urina de ratos, muitas vezes presente em água e alimentos contaminados. Segundo dados do Ministério da Saúde, as taxas de contaminação no Estado do Rio de Janeiro são altas quando comparadas com os outros estados brasileiros e o agravamento dessa condição pode levar a um aumento das hospitalizações pela doença, cenário que também está em destaque no estado.
Um artigo científico elaborado por alunos da Faculdade de Medicina de Petrópolis, durante a disciplina de Saúde e Sociedade III com atividades no Laboratório de Informática, apresenta dados importantes em relação à doença, fazendo um comparativo entre a cidade do Rio de Janeiro e Petrópolis. O trabalho destaca a prevalência de leptospirose nos municípios, no período de 2018 a 2020, e a prevalência das internações em decorrência da doença, de janeiro de 2018 até junho de 2022, além de refletir sobre os fatores associados à enfermidade e exibir formas de prevenção.
“O tema sobre análise de casos de leptospirose em Petrópolis foi inicialmente pensado após a catastrófica chuva que assolou o município no início do ano, levando em consideração a correlação de tragédias ambientais com o aumento de ocorrências da enfermidade na região acometida. É evidente que a cidade apresenta diversas falhas em sua infraestrutura urbana, que propiciam um solo fértil para a proliferação da doença e precisam ser evidenciadas para serem corrigidas. Na minha opinião, esse tipo de trabalho acadêmico é fundamental, pois conseguimos avaliar todo um contexto de vida por trás de uma condição clínica, que nos ensina a ter uma visão mais ampla e humanizada da medicina. Considero isso essencial na prática médica, já que é de extrema importância compreender os indivíduos de forma integral, no intuito de estabelecer uma boa relação médico-paciente e poder tratar esse indivíduo de forma adequada, não o limitando ao seu diagnóstico. Nesse sentido, a disciplina de Saúde e Sociedade III foi brilhante ao trazer à tona todas essas nuances socioeconômicas na análise das doenças que são estudadas no curso médico”, explica José Luiz Mendes Erthal Alves, aluno da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP) integrante do grupo de trabalho sobre leptospirose.
O grupo de estudantes de Medicina utilizou dados do SINAN (Sistema de Informações de Agravo e Notificações) sobre a prevalência de leptospirose, durante os anos de 2018 a 2020, nos municípios de Petrópolis e do Rio de Janeiro, além de dados do SIH (Sistema de Informações Hospitalares), sobre as internações pela doença em ambos os municípios, no período de janeiro de 2018 até junho de 2022. Os resultados indicaram maior prevalência da enfermidade na Cidade Imperial. Foi observado um aumento expressivo das internações pela doença em Petrópolis este ano, após as fortes chuvas com diversas inundações que acometeram a cidade, sendo registradas até junho, dez vezes mais hospitalizações do que no ano de 2021. Petrópolis teve 21 internações pela doença até junho de 2022, sendo esses números absolutos equivalentes aos da cidade do Rio de Janeiro no mesmo período, que apresenta cerca de 20 vezes a população petropolitana.
“É importante salientar que os desastres naturais como inundações e deslizamentos, juntamente com a vulnerabilidade social e as más condições sanitárias, potencializam a ocorrência de doenças. Diante disso, a transmissibilidade da leptospirose não está só relacionada aos fatores ambientais, mas também às questões socioeconômicas intimamente ligadas à infraestrutura das localidades. Também devemos considerar que grande parte dos pacientes acometidos pela doença, além de não possuírem serviços de saneamento básico adequados, também não têm acesso às informações adequadas sobre a forma de transmissão da leptospirose. Desse modo, é possível que a prevalência real da leptospirose pode ser desconhecida, pois se trata de uma doença muitas vezes negligenciada pelas autoridades sanitárias e de difícil diagnóstico, já que seus sinais e sintomas são muito semelhantes aos de outras doenças, ocasionando assim sua subnotificação”, destaca Patrícia Boccolini, pesquisadora e professora da disciplina de Saúde e Sociedade III do curso de Medicina da UNIFASE/FMP.
O artigo científico foi selecionado para ser apresentado na 28ª Semana Científica da UNIFASE/FMP, que está sendo realizada esta semana no campus acadêmico da UNIFASE/FMP. Com dados atuais, o levantamento revela os impactos das grandes chuvas em Petrópolis no setor público de saúde, especialmente diante de quadros graves de leptospirose que requerem a internação dos pacientes.
“A nossa proposta é alertar a população sobre a doença e os sintomas que são similares aos de outras doenças, como febre alta e dor no corpo. Fiquei muito feliz e realizado com essa conquista, visto que eu, minhas colegas e a nossa professora orientadora Patrícia Boccolini nos dedicamos bastante na elaboração desse projeto e possuímos um grande carinho por ele. É o primeiro trabalho científico do nosso grupo a ser exposto e já estamos entusiasmados para os próximos”, comenta o aluno de medicina, José Luiz Mendes Erthal Alves.
Os dados de Leptospirose que comparam a realidade de Petrópolis com a cidade do Rio de Janeiro, municípios que sofrem com constantes episódios de enchentes, foram analisados de acordo com os indicadores de saúde, que levam em consideração a diferença no quantitativo populacional. O estudo se baseou não apenas nos casos registrados, mas também no número de internações de pacientes graves.
“Tivemos a ideia de o grupo trabalhar com dados de internações, pois os dados sobre casos registrados da doença estavam ligeiramente defasados, com informações apenas até 2020. Através dos indicadores de saúde, os dados revelam que os casos de leptospirose são maiores em Petrópolis, quando comparados com a cidade do Rio. Os dados sobre as internações são mais recentes, então a gente conseguiu analisar o possível impacto das chuvas desse início de ano em Petrópolis. Nessa disciplina de Saúde e Sociedade III, além de trabalharmos o olhar sobre nossos sistemas de informação e construção de indicadores em saúde, também incentivamos que os alunos reflitam sobre outros aspectos como prevenção e os benefícios que a leitura dos dados pode trazer para a comunidade. O importante desse trabalho é trazer à luz esse tema, como na questão da prevenção, por exemplo, alertando as pessoas para que quando tiverem contato com a água suja ou lama de chuvas, sempre que puderem usar luvas, botas e roupas apropriadas para não entrar em contato com a sujeira que pode estar contaminada. Por fim, é necessário destacar que sem o devido tratamento, nas formas mais graves, a pessoa pode apresentar meningite, insuficiência renal, hepática e respiratória que podem, inclusive, levar à morte. É uma situação grave e toda população precisa ficar atenta a isso, especialmente, quando ocorre de forma sucessiva em cidades que são assoladas por enchentes”, finaliza a professora Boccolini.
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