Paulo Sá e Ricardo Tammela são os organizadores da I Jornada da Virada Climática da UNIFASE.



* Paulo K de Sá


A modificação do clima é fato notório, não precisamos de cálculos complexos para testemunhar que o clima não se apresenta da mesma forma que em outros tempos. Ou seja, não é novidade as enchentes, deslizamentos e escorregamentos de encostas, sempre ocorreram, mas nos últimos anos algo mudou.


Algo mudou nos últimos 40 anos. As estiagens estão prolongadas, causando falta de água em vários locais da cidade, assim como no período de chuvas de verão, a precipitação passou a ser torrencial e localizada.


O verão de 2022 foi marcado por intensas chuvas em várias regiões do país, com várias tragédias, e em 15 de fevereiro e 20 de março, quase um mês entre uma e outra, em Petrópolis, vivemos mais tragédias com forte repercussão nacional. Já tivemos episódios como esse em outros anos marcantes também, 1988 e 2011, episódios que marcaram a cidade, fora os eventos de menor monta, porém constantes e trágicos para alguns, quase todo ano.


Vimos entrar e sair ano e os petropolitanos se perguntam, será que esse ano vai ter temporal novamente? Sim, com certeza terá, quais as consequências futuras? Já sabemos, catálogo de sofrimento com perdas de vida e perdas materiais graves. Negócios são destruídos, fechados, uma parcela da população fica desempregada em uma cidade com desafios econômicos de empregabilidade importantes.


As chuvas continuarão com certeza e cada vez mais intensas, com enchentes e deslizamentos. A estrutura urbana da cidade está errada, construímos nossas vidas encostados nos rios ou ocupando os morros, ricos e pobres. Nenhum dos dois locais poderiam estar habitados. Não podemos controlar o tempo e nem remover a cidade inteira. O que fazer?


A UNIFASE, no seu compromisso com a cidade e disposta a enfrentar essa situação, veio a público promover uma reflexão ampla sobre o aniversário das tragédias de 15 de fevereiro e 20 de março de 2022, através de um evento chamado “Jornada da Virada Climática”.


Entre 15 de fevereiro e 20 de março de 2023, estamos com a missão de promover essa grande jornada, com palestras, oficinas, mesas redondas, eventos artísticos, teatro, dança, exposições e outras propostas, com o intuito de convidar o povo petropolitano a refletir sobre essa questão e buscar saídas para amenizar o problema. Não é um evento restrito a alunos e professores, pelo contrário, a comunidade acadêmica se integra à população petropolitana na busca e construção de ações cooperativas para o enfrentamento desse problema complexo.


O que se tornou aterrorizante é que o clima está muito mais alterado por conta, em grande parte, da lógica insustentável de desenvolvimento adotada pelo ser humano, baseada em um modelo extrativista da natureza, extrativista dos corações humanos e de suas escolhas e saberes ancestrais, extrativista que suga o direito à vida para todos os seres, promotor de conflitos de classes nas populações, de intolerâncias raciais, étnicas, de gênero e orientação sexual, de intolerância religiosa e cultural, tudo em prol do capital, com a ingenuidade ou perversidade ideológica, de que o capital, por si, fará com que a desigualdade social seja corrigida.


Podemos escolher continuar à deriva, baixando os olhos para o sofrimento e se submetendo a uma ordem de desunião e destruição, ou arregaçar as mangas e vir para o debate em busca de soluções reais para o enfrentamento do problema.

  

 

(*) Coordenador do Curso de Medicina da UNIFASE/FMP.

 

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