PETRÓPOLIS. Desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão sobre os processos de subjetivação e produção de representações são as propostas do Laboratório de Estudos em Representações Sociais e Saúde do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE) que, recentemente, promoveu um bate-papo com a pesquisadora Drª Maria Cristina Chardon, da Universidad Nacional de Quilmes, da Argentina, sobre as Representações Sociais e cuidados: os sujeitos, as práticas e as instituições.
"Temos um convênio com a Universidade Nacional de Quilmes e queremos estreitar ainda mais esses laços, a partir de cursos on-line, intercâmbio de estudantes e de docentes. Encontros como este criam muitas oportunidades para que os futuros profissionais possam conhecer questões, noções, conceitos e constructos que importam à prática profissional. Além disso, ter contato com uma pesquisadora de outro país, com outra abordagem sobre questões com as quais lidamos também no Brasil, oferece a possibilidade de ampliarmos a percepção sobre os problemas que temos no nosso país a partir daquilo que encontramos de identidade e de diferença com outros países latinoamericanos", explica Maria Regina Bortolini, coordenadora do LERS da UNIFASE.
As Representações Sociais partem do imaginário social, da forma como as pessoas percebem o mundo, com suas crenças e valores, e são frutos da constante negociação e conversação nos grupos aos quais pertencem. Isso acontece no âmbito da família, dos grupos de amizade, nas relações profissionais.
"Esse encontro foi muito enriquecedor. A reflexão sobre as representações sociais da população idosa é um tema que a sociedade realmente precisa evidenciar, destacando a valorização dos idosos, para que tenham direito de fala, sobretudo na questão do cuidado que deve ser direcionado a essa categoria. Enquanto profissionais da área da saúde, devemos nos envolver mais na questão do acolhimento. Acredito que a troca de experiências entre as gerações só tem a agregar para a sociedade como um todo", comenta Renata Carvalho, residente de Enfermagem da UNIFASE.
Há sete anos, o Laboratório de Representações Sociais e Saúde da UNIFASE desenvolve cursos, pesquisas e aplica uma disciplina eletiva (Juventude, Identidades e Gêneros), além de editar a Revista Intervozes, em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da UFF e com a Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.
"Compreender esse processo dinâmico e complexo de construção das representações é parte inerente na formação de qualquer profissional, especialmente na área de saúde. Nosso principal interesse nos últimos anos têm sido os processos de construção da subjetividade e identidade de gênero. Nos interessa especialmente o lugar do feminino, quais são os valores e crenças associados a esse lugar do feminino? Qual a representação da mulher, da maternidade, do parto, de questões que estão relacionadas ao feminino e de que forma essas questões se relacionam com as práticas em saúde?", explica Maria Regina Bortolini, coordenadora do LERS da UNIFASE.
A teoria das Representações Sociais oferece elementos teóricos para que possam pensar nas intervenções e em como lidar com outras pessoas, de diferentes culturas, grupos sociais e níveis intelectuais.
"Muitos autores falam sobre como cada um de nós se situa numa esfera subjetiva, em uma esfera intersubjetiva, onde se relacionam com outras pessoas, e em uma esfera transsubjetiva, a esfera do público, onde está a cultura. Esse campo de estudos é muito importante para todas as pessoas que vão trabalhar no sistema de saúde, pois precisam compreender que existem representações, que transitam por essas esferas a partir do grupo de pertença das pessoas. Quando dizem que se deve cuidar de um paciente como você gostaria de ser cuidado, está errado. O profissional vem de um grupo social, de uma cultura, de uma forma de cuidado. É preciso entender as necessidades individuais e coletivas dos pacientes.", destaca a pesquisadora Drª Maria Cristina Chardon, da Universidad Nacional de Quilmes, da Argentina
A pesquisadora também reflete sobre as transformações na sociedade em relação aos cuidados em saúde, que durante muito tempo foram restritos ao âmbito doméstico-familiar e no âmbito do gênero feminino, e não ao nível dos direitos humanos e do Estado.
"Se imaginava que as mulheres sabiam cuidar das pessoas adoecidas pelo simples fato de serem mulheres. Como se o cuidado fosse marcado por um gene, o que tem a ver com a representação hegemônica do patriarcado, onde as mulheres é quem devem cuidam. Mas hoje, há toda uma linha de reflexão muito importante em que o cuidado está associado aos direitos que as pessoas têm de cuidar e de serem cuidadas, sendo o Estado responsável por cuidar de seus cidadãos e cidadãs", frisa a pesquisadora.
A reflexão diante do cenário de cuidados em saúde se estende também aos profissionais que atuam em clínicas e hospitais, garantindo o atendimento à população em cenários desafiadores, como na pandemia de COVID-19.
"Um tema que tem sido abordado nos últimos tempos e que é de suma importância - quem cuida daqueles que cuidam, médicos, enfermeiros, psicólogos e os demais profissionais da área da saúde e da educação? A família deles que deve cuidar? O Estado deveria interferir nisso? Os cidadãos deveriam se preocupar com eles? - Então, o cuidado em saúde aparece como outra construção epistemológica. Por isso, se fala em desfamiliarizar o cuidado, tirá-lo da esfera da casa de família e do campo do gênero, assumindo um significado epistêmico muito importante não apenas de como ele é construído, mas também nas políticas públicas", finaliza a pesquisadora.
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