Mesa de abertura do evento / Foto: Divulgação |
PETRÓPOLIS. Um plano de ação para a
promoção da equidade em saúde foi resultado do trabalho construído durante o
Seminário da Rede Latino-americana da Associação Internacional de
Institutos Nacionais de Saúde Pública (IANPHI), que ocorreu nos dias 21, 22 e
23 no Palácio Itaboraí, sede do Fórum Itaboraí-Fiocruz Petrópolis. As propostas
do plano, que incluem atividades de capacitação em Saúde Pública com
foco nas desigualdades sociais, bem como a implementação de projetos de tecnologias
sociais, serão consolidadas em um relatório final que será
apresentado em outubro na reunião da rede latino-americana da IANPHI em El
Salvador.
Representantes da Argentina,
Brasil, Chile, Costa Rica, El
Salvador, Equador, México, Peru e Venezuela, além de Canadá, Moçambique e
a regional sul-americana da OPAS participaram do seminário, que contou com apoio
do CDC dos Estados Unidos.
Durante a abertura, a
Ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, enviou um
vídeo destacando a importância da iniciativa em um momento em que, para
ela, se torna urgente - face a relevância dos determinantes sociais e
ambientais da saúde - colocar de uma forma clara o tema das desigualdades e das
inequidades em saúde.
“Tenho dito que a hora é agora
de colocar em pauta a questão da superação das desigualdades, o que se reforça
no momento em que o Brasil passa a presidir o Mercosul e também o G20, evento
do qual acabo de participar, levando pautas muito próximas as discutidas neste
evento. Aguardaremos no Ministério de Saúde com muita atenção as sugestões de
propostas que vierem de um encontro tão relevante para o pensamento e a prática
em saúde e que possamos ter ótimos subsídios dessa discussão”,
disse Nísia.
Também na apresentação de abertura
do seminário, Hermano Castro, vice-presidente de Ambiente, Atenção e
Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, traçou um panorama sobre
a situação das desigualdades em saúde no Brasil, apontando questões como a
violência, inclusive de Estado nas periferias e por conflitos de
terras nos territórios quilombolas; o relançamento do programa Mais
Médicos e os desafios nesse contexto, a importância do SUS que,
segundo ele, evitou uma tragédia maior no pais durante a Covid-19; a necessidade
de combater as fake news para a educação em saúde e a
insegurança alimentar.
“São algumas questões
que a ciência precisa seguir, superar poderes que se esgotam, avançar o
conhecimento com novas construções de todas as tecnologias envolvidas no
diagnóstico e tratamento no campo da saúde, mas também as
tecnologias sociais envolvendo, inclusive, questões que hoje a gente volta
ao debate do Brasil, como são as práticas integrativas, enfim, que
devem vir ao encontro das necessidades de saúde da nossa
população”, disse Hermano.
O prefeito de
Petrópolis, Rubens Bomtempo, também participou da
abertura do evento, e disse que o documento, resultado do seminário,
poderá ser um norteador para ampliar a discussão da saúde
pública. “Que Petrópolis possa, junto com a Fiocruz, com os institutos aqui
presentes, se fortalecer na ideia da construção de Estado, que a garantia
dos direitos humanos esteja na pauta de todos nós e que a gente saia daqui
fortalecendo cada vez mais as nossas democracias”, destacou.
Eixos norteadores do seminário
O plano de ação do
seminário foi elaborado levando em consideração três eixos
principais. O primeiro, de caráter global, relacionado à soberania na
produção e acesso a insumos e produtos de saúde, com ênfase nos
kits de diagnóstico e nos soros antiofídicos e antivenenos, com
atenção à população de maior vulnerabilidade dos países da América
Latina.
O segundo discutiu a necessidade de analisar comparativamente as
inequidades no acesso aos sistemas de saúde nos países participantes,
com foco na atenção primária e nos sistemas de saúde nas áreas de
fronteiras.
Já o terceiro, de caráter
territorial local, foi sobre a implantação de tecnologias sociais, como o
Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) e a cartografia participativa, para
fortalecer a organização e participação comunitária na atenção primária de
saúde.
Para Ellen Whitney, do
escritório da IANPHI nos Estados Unidos, a partir do resultado deste
trabalho será necessário traduzir as discussões em atividades
concretas com resultados mensuráveis. “Ao defender a equidade na saúde na
América Latina, estamos também contribuindo para os esforços globais
mais amplos da IANPHI para identificar formas como os Institutos Nacionais
de Saúde podem contribuir para melhorar a equidade na saúde para todos”, disse.
Ellen explicou que a equidade
em saúde tem fundamentalmente a ver com justiça social e a garantia de
oportunidades iguais de saúde para todos, independentemente da origem ou das
circunstâncias. “Investir na equidade em saúde pode elevar o aumento da
produtividade da força de trabalho, à redução dos custos de saúde a longo prazo
e ao crescimento econômico da América Latina”, destacou.
Felix Rosenberg, diretor
do Fórum Itaboraí e coordenador da rede latino-americana da IANPHI acrescentou
que o plano de ação que resultará do Seminário é um documento
para que os Institutos de Saúde Pública ampliem suas ações estratégicas
para além do diagnóstico e investigação laboratorial, incorporando
tecnologias sociais, visando maior inserção nas políticas de saúde. “Esta
reunião foi extremamente exitosa porque conseguiu definir ações concretas e
específicas dos Institutos Nacionais de Saúde de América Latina no
enfrentamento às inequidades em saúde após intensas e férteis discussões, com muita
participação e entusiasmo de todos. O mais importante é que saímos daqui com um
plano de ação que define os compromissos futuros da Rede”, afirmou.
Carlos Arosquipa,
consultor em Programa sub-regional para América do Sul da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), apontou que entre os principais
desafios na América Latina estão as enormes diferenças e lacunas que
existem entre os grupos populacionais, o que explica uma parte significativa da
carga de doenças nesses países.
“A única forma de enfrentar esses problemas de saúde é abordando suas causas, e
uma dessas causas é a desigualdade que existe não apenas no acesso aos
serviços, mas também nas condições de vida. E este seminário teve como
objetivo justamente abordar o papel que os institutos nacionais de saúde
desempenhariam nesse esforço para reduzir as desigualdades. É um esforço que
requer a participação de múltiplos atores de diferentes setores. Os institutos
nacionais de saúde são fundamentais para avançar nesse desafio, não apenas
porque são instituições que têm um papel específico em todos os nossos países,
mas também porque possuem competências e capacidades estabelecidas que ajudam a
realizar esse trabalho, especialmente em pesquisa e vigilância”.
O seminário foi transmitido on-line pelo canal do Youtube do Fórum Itaboraí,
com traduções em inglês e espanhol, e pode ser acessado neste
link.
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