Foto: Renan Piva |
PETRÓPOLIS – No dia 1º
de dezembro de 2023, a partir das 10h, acontece a inauguração
da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, que
abre as celebrações dos 80 anos do espaço inaugurado em 1944 como
hotel-cassino, e que hoje sedia o Centro Cultural Sesc Quitandinha. A grandiosa
exposição tem curadoria geral de Marcelo Campos, e é composta
por seis núcleos. O público é recebido por um mapa do século 18, epelas
primeiras referências da presença de negros na Freguesia de Nossa Senhora de
Inhomirim, base do povoamento da região, por meio da navegação do rio Piabanha
e das fazendas que exploravam o trabalho escravizado, que deu origem à cidade
que hoje conhecemos como Petrópolis. A mostra será acompanhada por uma programação
cultural gratuita.
“Da Kutanda ao
Quitandinha – 80 anos” irá destacar inicialmente as tecnologias trazidas
pelos africanos, suas lideranças, e a quitanda–assentada no local
onde está o Quitandinha – operada por mulheres pretas, e responsável
por parte expressiva da economia do século 19. A palavra é derivada
de kitanda, “feira”, e kutanda,“ir para longe”, no idiomaquimbundo,
falado em Angola, origem de muitos africanos que formam a grande população
afro-brasileira.Vários artistas contemporâneos participam deste núcleo. Em
outro segmento, Anna Bella Geiger (1933) ocupa um lugar central, com
um documentário sobre ela feito especialmente para a exposição, e com
obras que participaram da 1ª Exposição de Arte Abstrata, em 1953.
Para se ter uma ideia do ambiente
glamuroso do local em sua época de cassino, de 1944 a 1946, vários
itens do mobiliário e da decoração foram recriados, além de uma
galeria com reproduções de fotografias de época, pertencentes ao Instituto
Moreira Salles. BailesBlack, de carnaval, funk, jambetes, Furacão
2000, nos anos 1970, também terão registros na exposição.
Tomas Santa Rosa Junior |
Dois importantes artistas negros, que tiveram forte presença no antigo hotel-cassino, ganham visibilidade e são homenageados. Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor,ilustrador, responsável pela inovação no design de capas de livros – “Cacau” (1934), de Jorge Amado, e “Caetés” (1933), de Graciliano Ramos, são exemplos – e importante cenógrafo – a peça “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, em 1943, marco no teatro brasileiro – e autor dos murais da piscina e do café-concerto, e da pintura decorativa de biombosdo Quitandinha. Em outros dois espaços do CCSQ serão reproduzidas as decorações de carnaval do Rio, feitas por ele em 1954. Ativista dos movimentos étnico-raciais, trabalhou de 1947 a 1949 noTeatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento(1914-2011). Já o gaúcho Wilson Tibério 1920-2005) fez nos salões do Quitandinha, em 1946,uma exposição com cerca de 130 obras. Militante político e antirracista, foi viver na França,de onde fez constantes viagens à África, onde pesquisou o cotidiano das populações e ritos afro-brasileiros, criando várias pinturas, e participando de eventos sobre artes negras, como o 1º Congresso de escritores e artistas negros na Universidade de Sorbonne, Paris, em 1951, e do 1º Festival Mundial de Artes Negra, emDacar, em 1966, hoje em dia um evento emblemático.
“Pensar e celebrar os 80
anos do Quitandinha, focando em arte e cultura, é rever uma
história, sublinhar fatos, em sua maioria, desconhecidos, e cuidar para
que uma sociedade desigual não permaneça”, afirma Marcelo Campos. “O
Quitandinha foi protagonista nas relações da paz mundial, com a
assinatura, em 1947, do tratado que se tornaria, anos depois, na Organização
dos Estados Americanos, a OEA. Dois importantes artistas brasileiros, Tomás
Santa Rosa e Wilson Tibério, realizaram murais e exposições neste
local.A primeira mostra de arte abstrata do Brasil aconteceu
lá.Portanto, a exposição ‘Da Kutanda ao Quitandinha’ atravessará parte dessa
história sob um olhar atual. Levantamos imagens de imprensa importantes e
raras. Entrevistamos Anna Bella Geiger, uma das participantes da exposição
de Arte abstrata”, assinala.“Realizar esta exposição é evidenciar a
centralidade do Quitandinha, hoje, Centro Cultural Sesc, na realização de
ações culturais”.
Foto Quitandinha 80 anos / Acervo CCSQ |
Serviço:
Exposição “Da Kutanda ao
Quitandinha – 80 anos”
Abertura: 1º de dezembro de
2023, a partir das 10h
Até 25 de fevereiro de 2024
Centro Cultural Sesc Quitandinha (Avenida Joaquim Rolla, nº 2, Quitandinha, Petrópolis)
Terça a domingo, e feriados,
das 9h30 às 17h (conclusão do itinerário até as 18h)
Visitas guiadas: terças a
domingos e feriados, das 10h às 16h30 (conclusão do itinerário até as 18h)
Visitação ao entorno do Lago
Quitandinha: terças a domingos e feriados, das 9h às 17h (em caso de chuva a
visitação é suspensa)
Entrada gratuita
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