Autora participa de dois eventos
Lançamento será no Rio de Janeiro e em Paraty
PETRÓPOLIS - Quem costuma
falar sobre a morte? Ainda considerada o maior tabu do mundo moderno, nem
com a sua proximidade o tema costuma ser dialogado socialmente. “É muito comum
que, diante de doenças graves, conversas delicadas e difíceis sobre a
proximidade da morte sejam permanentemente adiadas, até que seja tarde demais
para fazerem diferença sobre a vida afinal”, frisa a pesquisadora, professora e
advogada Cynthia Araújo, autora do “A vida afinal - Conversas difíceis demais para se ter em voz
alta” (Paraquedas, 2023, 158 pág.).
A autora estará em novembro no
Rio de Janeiro lançando a obra na Janela Livraria do Jardim Botânico (Rua
Maria Angélica, 171, loja B), no dia 21, às 19h, na capital carioca, e no dia
25, às 19h, dentro da programação da Casa Pagã, na Matriz Cultural da Festa
Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece no Centro Histórico da
cidade, na Rua Marechal Deodoro, 378. A autora participa da mesa “Poética da
finitude: a morte na literatura”, ao lado de Renata Machado, Decio
Zylbersztajn, e Daniele Tavares, com mediação de Renan Sukevicius.
Publicada pela Paraquedas,
selo da editora Claraboia, a obra de Cynthia tem como tema central
redimensionar a ideia de viver a partir da perspectiva da proximidade com a
morte. Sua abordagem parte dos resultados de sua pesquisa de doutorado,
inclusive entrevistas feitas com pacientes de câncer em estado avançado,
e trabalha o impacto de questões como autonomia e acesso à informação nas
escolhas feitas por eles.
O livro conta com o prefácio
assinado por Sarah Ananda, médica paliativista e fundadora da equipe de
cuidados paliativos do Hospital Felício Rocho em Belo Horizonte (MG);
apresentação da escritora e defensora pública Mariana Salomão Carrara,
finalista do Prêmio Jabuti; e quarta capa com blurbs assinados pela roteirista
e jornalista Camila Appel, pelo oncologista e paliativista Munir Murad Jr, e
pela escritora e jornalista Jéssica Moreira.
A publicação é fruto da vontade
da autora de tornar acessível sua pesquisa de doutorado sobre as expectativas
irreais de pacientes com câncer avançado. "A ideia é refletir com os
leitores sobre como a ilusão de uma vida longa e o projeto para um futuro
distante pode desviar a atenção do viver o presente da melhor forma
possível", explica Cynthia. Mariana Salomão Carrara afirma, na
apresentação, que esse livro é sobre “o médico que precisa aprender sobre a
morte e o paciente que precisa, agora mais do que nunca, aprender a viver.”
Apesar da densidade da
temática, Cynthia consegue expor com sensibilidade o tabu da morte e a
necessidade de desmistificá-lo. Embora a obra faça uma leitura realista e,
muitas vezes, dura sobre a proximidade da morte, especialmente diante de
doenças graves, também apresenta, em sua escrita envolvente, uma visão leve e
acolhedora sobre como pensar que morrer pode redimensionar a ideia de viver.
Para isso, além de resultados
do seu doutorado, Cynthia compartilha um pouco da sua trajetória como membro da
Advocacia-Geral da União, especialista em demandas de saúde, e como pesquisa e
vida real se misturaram, ao contar um pouco a história da doença grave da sua
mãe.
Quando amor pela escrita, vida e pesquisa se encontram
Nascida em Petrópolis (RJ), em
1984, Cynthia Araújo mora em Belo Horizonte desde 1997 com seu marido Daniel e
sua filha, Beatriz, que acabou de fazer dois anos. Formada em direito pela
UFMG, ela se tornou membro da Advocacia-Geral da União dois anos depois de se
formar. Mestre e doutora pela PUC-Minas, sua tese, “Existe direito à esperança?
Saúde no contexto do câncer e fim de vida”, foi indicada pelo programa de
pós-graduação da PUC-Minas ao prêmio Capes de Teses 2020. Em 2021, foi
convidada para expor sua pesquisa no 9º Simpósio Internacional Oncoclínicas e
Dana Farber Cancer Institute. Além de escrever e cantar, Cynthia ama lecionar.
Escreve desde a infância, mas
só foi aceitar que é uma pessoa que escreve após começar a publicar com
frequência no blog da Folha de São Paulo Morte Sem Tabu, no início de
2022. E, ainda assim, conta que só teve coragem de se chamar de escritora com a
publicação do novo livro. Sua principal influência para a escrita dessa obra
foi “Mortais”, do Atul Gawande. “Por um fio”, de Drauzio Varella, “O último
sopro de vida”, de Paul Kalanithi, e “Como morremos”, de Sherwin Nuland, também
foram referências importantes.
Desde o período da pesquisa do
doutorado, Cynthia sentia vontade de compartilhar o que estava estudando com
pessoas fora da área acadêmica por considerar os dados encontrados por ela algo
de interesse geral. Ela também foi muito incentivada por pesquisadores, médicos
e leitores de sua tese a transformá-la em uma escrita de conhecimento
acessível. “Na verdade, acho que todo pesquisador devia ter essa preocupação,
mas, em razão dos temas que eu abordo, isso me parecia especialmente
importante.”
Provocada por esse
desejo, “A vida afinal - Conversas difíceis demais para se ter em voz
alta” começou a ganhar forma quando Cynthia escreveu um capítulo longo,
quase de uma vez, contando o que a fez querer entender as expectativas de
pacientes com câncer avançado sobre os tratamentos a que se submetem. Nesse
processo, compartilhar também sua história pessoal de reflexão sobre a
finitude, a partir do que sua família passou com a doença de sua mãe, foi
inevitável.
Para o futuro, a autora sonha
em fazer uma nova edição voltada para a leitura mais acessível também do livro
que publicou a partir de sua dissertação de mestrado, sobre nazismo. Ela
pretende se dedicar ao assunto em um pós-doutorado na Alemanha, com convite
pendente em razão da pandemia e da sua recente maternidade.
Confira um trecho da obra:
"Minha pesquisa investigou
o papel da esperança em casos de doenças graves e refletiu sobre como a ilusão
de sobreviver e projetar um futuro pode desviar a atenção do viver o presente
da melhor forma possível. Queremos acreditar que a Medicina sempre tem uma
cura. Mas ela não tem – e dificilmente terá um dia – solução para tudo. Embora
existam muitas tecnologias que são determinantes para a manutenção e a
recuperação da saúde, nós continuamos adoecendo. E morrendo."
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