Foto: Dudu Bellotti |
PETRÓPOLIS - A centralidade do
pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e
lugares, é uma das principais premissas que guiam o processo curatorial da
mostra Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente exposição
dedicada exclusivamente à produção de artistas negros. Depois de passar
sete meses em São Paulo, com registro de mais de 130 mil visitantes, a
exposição chega ao Rio de Janeiro e será instalada em um dos principais cartões
postais da Região Serrana: o Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ), em
Petrópolis. Com abertura marcada para o dia 3 de maio, a mostra receberá
visitantes até 27 de outubro deste ano.
Resultado de um trabalho
desenvolvido pelo Sesc em todo o país, a mostra conta com sete núcleos
temáticos, reunindo aproximadamente 240 artistas negros, de todos os estados do
Brasil, sob curadoria de Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo
Campos. Realizada por meio de um trabalho em conjunto de analistas de cultura
da Insituição de todo o país, a exposição traz obras em diversas linguagens
artísticas como pintura, fotografia, escultura, instalações
e videoinstalações, produzidas desde o fim do século XVIII até o
século XXI. A lista completa dos artistas participantes está disponível ao
final do texto.
“O projeto Dos Brasis lançou
um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença
na construção da história da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos
analistas de cultura em todo o país, em um grande alinhamento nacional. A
exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro é a culminância desse processo e
oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e
intelectuais negros, com também de refletir sobre sua participação nos diversos
contextos sociais”, explica o Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc,
José Carlos Cirilo.
A exposição chega na íntegra
ao Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ). As 314 obras que estavam em
exibição no Sesc Belenzinho (SP) vão ocupar os salões da área monumental do
histórico edifício, que em 2024 completa 80 anos. Parte dos trabalhos, alguns
inéditos, também serão expostos pela primeira vez na área externa e no lago em
frente à unidade. A mostra vai ainda oferecer ao público uma programação
paralela com ações em mediação cultural e atividades educativas, além de
um programa público composto de debates e palestras com convidados.
Inaugurado em 1944, um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial, o Quitandinha abrigou um dos maiores hotéis-cassino das Américas. Recebeu personalidades brasileiras e hollywoodianas, como Carmen Miranda e Walt Disney. Também foi palco de eventos que marcaram a história, como da Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Segurança no Continente, em 1947, e a 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, realizada em 1953. Na década de 1960, após a proibição dos jogos no Brasil, o cassino foi fechado e o hotel teve seus apartamentos vendidos, tornando-se um condomínio. Em 2007, a área monumental passou a ser administrada pelo Sesc RJ, que a transformou em um Centro Cultural.
Waleff Dias. Sem título, da série Até os Filhos do Urubu Nascem Brancos 2019 |
Desde que foi reinaugurado
como um Centro Cultural, em abril do ano passado, o Quitandinha vem sendo
ocupado por exposições que resgatam a forte identidade afro-brasileira em
Petrópolis. A primeira, intitulada “Um oceano para lavar as mãos”, com
curadoria de Marcelo Campos e Filipe Graciano, apresentou uma revisão da
história do Brasil a partir de narrativas não eurocentradas, pensada por
curadores e artistas negros, levando o espectador à reflexão sobre a forte
memória e produção artística negra na contemporaneidade, no Brasil e no
município, e sua relação com o passado imperial. Depois, dos mesmos curadores,
recebeu a coletiva “Da Kutanda ao Quitandinha”, em que o ponto de partida foi o
território onde o edifício está inserido – uma região marcada por quilombos
formadores da cidade.
“Agora, abrimos as portas para
a ‘Dos Brasis’, que apresenta um recorte extraordinário da arte negra nacional.
O Sesc RJ tem um compromisso inegociável com a democratização da cultura e do
acesso à informação, sobretudo frente a um histórico de narrativas
invisibilizadas ao longo da formação do nosso país. Os Centros Culturais da
instituição vêm investindo em curadorias afrocentradas e recortes racializados,
viabilizando novas leituras no campo das Artes, das Ciências Sociais e da
história da produção artística moderna e contemporânea, tendo como finalidade a
valorização da pluralidade da cultura brasileira”, declara o presidente do
Sistema Fecomércio RJ, Antonio Florencio de Queiroz Junior.
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