A atividade física é fundamental para a saúde do coração / Foto: Fabiano Silva


Independente da faixa etária, a busca por uma maior qualidade de vida, com foco na longevidade, além de hábitos que possam minimizar riscos para possíveis doenças no futuro, têm sido apontadas como motivos para uma maior dedicação a modalidades esportivas. As atividades têm como aliada a avaliação cardiovascular, uma poderosa ferramenta para o diagnóstico precoce e a redução de riscos durante a prática, que podem ser cruciais para evitar mortes e doenças correlacionadas. 

 

Segundo o médico cardiologista Tayene Quintella, os exames podem colaborar para o desenvolvimento de um treinamento adequado, avaliando possibilidades de execução dos exercícios, intensidade e até mesmo detectando problemas que podem impactar a curto, médio e longo prazo.

 

“Hoje muitas doenças silenciosas, sendo muitas delas de característica genética, têm seu risco aumentado durante atividades físicas e com isso uma avaliação pré pode ajudar nessa filtragem inicial e diminuir riscos. Algumas dessas doenças são apontadas como as principais causas de morte súbita em atletas, o que comprova a necessidade de um acompanhamento rigoroso. Quando é possível detectar esses problemas, chegamos a exemplos como o do jogador Washington, que jogou no Fluminense após descobrir doenças graves e operar o coração, se destacando na volta como artilheiro do campeonato brasileiro”, explica.

 

A arritmologia é a parte da cardiologia que corresponde a área “elétrica” do coração, fundamental para o funcionamento e bombeamento, comumente conhecido pelo público em geral. A avaliação pelo especialista é indicada em todo paciente sintomático ou naqueles que tenham história familiar de morte súbita e/ou inexplicada, síncopes (desmaios), palpitações ou sintomas relacionados.

 

“A gama de exames disponíveis é imensa, mas uma boa anamnese, um exame físico bem feito e um eletrocardiograma são fundamentais. A partir disso, caso a caso, podemos lançar mão de exames variados, como ecocardiograma, teste de esforço, ressonância, testes genéticos, holter, enfim … vários. Para atletas de alto rendimento, competidores ou para pacientes que fazem uso de alguma terapia hormonal (independentemente da indicação), devemos ter atenção redobrada e aí entram avaliações mais detalhadas como o ecocardiograma com strain e a ergoespirometria”, conta Tayene.

 

O trabalho é realizado de forma multidisciplinar, contemplando as áreas médicas, da fisiologia do exercício e outras, aliando profissionais como preparadores físicos, cardiologistas e as próprias redes de academia. De acordo com o fisiologista Rafael Arruda de Mello, especialista em treinamento de força, o trabalho conjunto associado a atividade física bem orientada pode também proporcionar a melhoria de patologias já existentes.

 

“Um estudo de 2019 mostra que homens mais fortes têm a redução de até 40% no risco de doenças cardiovasculares, independentemente do nível da capacidade aeróbica. Com isso fica cada vez mais evidente que se o objetivo de vida é ter mais saúde e longevidade, será necessário fazer exercícios e preferencialmente o treino de força, onde há um menor risco de morte súbita, devido a intermitência da atividade”, pontua.

 

Em práticas como a corrida de rua, somar o acompanhamento médico e do profissional de Educação física é fundamental para determinar a segurança do planejamento e de parâmetros como a intensidade e volume de treinos.

 

A corrida é um esporte popular e pode ser usada na prescrição para atingir a quantidade de 150 minutos por semana de atividade física para obtenção de saúde. Em um estudo de Lee (2017), “Running as a Key Lifestyle Medicine for Longevity”, a prática é colocada como a chave para a longevidade, apresentando redução de 25 a 40% do risco de morte prematura (Lee et al, 2017).

 

“Nos casos onde o aluno tem como objetivo a performance, a avaliação prévia e criteriosa é fundamental para a prescrição de treinos intervalados de intensidade alta. Quando falamos em provas de longas distâncias, como os 21km e 42km, esse acompanhamento também requer atenção. Os períodos de treinos semanais e diários são extensos, gerando uma exposição cardíaca maior, o que torna a liberação médica fundamental, visando afastar possíveis riscos cardiovasculares”, explica Felipe Carneiro, que atua como treinador da equipe de corrida Carneiro Run.

 

Segundo o educador físico Thiago Pereira, que atua como gestor representante de uma rede franqueada de academias, as próprias unidades costumam contar com o artifício de monitoramentos pré e pós-treino, mas que são utilizados conforme a recomendação do médico para cada paciente.

 

“Se a pessoa aparenta uma normalidade, sem saber da existência de alguma doença, pode haver sobrecarga por fatores desconhecidos. É recomendado que haja avaliação através de consulta cardiológica antes de iniciar atividades físicas, uma vez que o que podemos considerar como sintomas ‘brandos’ podem estar em estado avançado e, os exercícios que atuariam como remédio para muitas dessas patologias, podem ter efeito reverso, se prescritos sem a compreensão da particularidade de cada pessoa. Outro ponto importante é entender o papel de cada agente nesse processo, sabendo que a prescrição de remédios é função médica, já a prescrição das atividades físicas fica a cargo do educador físico, capaz de entender qual exercício se aplica a cada paciente mesmo com determinada doença”, explica.

 

O médico dá dicas para que a população possa garantir a qualidade de vida, mantendo a saúde em ambos os aspectos, evitando riscos futuros e proporcionando uma prática adequada.

 

“O primeiro conselho é fazer tudo de forma séria, sendo orientado por um profissional capacitado e registrado, fazendo uma avaliação médica antes, durante e depois. Manter bons hábitos de vida, preferencialmente procurar um nutricionista para alinhar uma boa alimentação, faz parte dessa organização que é fundamental. Infelizmente hoje em dia as falsas oportunidades de resultados rápidos, fáceis e baratos, expõem às pessoas a um risco que supera o benefício da atividade. Se for feito de forma correta, a atividade física é fundamental e poderá estar presente em todos, saudáveis ou com alguma doença, jovem ou idoso, sempre agregando benefício”, pontua o cardiologista Tayene Quintella.

 

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