Os aprendizados e resultados
do projeto Ará, iniciativa que buscou a promoção da saúde e o desenvolvimento
sustentável em três territórios do Rio de Janeiro e um de São Paulo, foram
apresentados em uma das mesas do Encontro Internacional de Territórios e Saberes
(EITS) em Paraty. O EITS reuniu participantes de 22 países em uma proposta de
diálogo entre saberes científicos e tradicionais entre os dias 9 e 15 de
setembro. O encontro contou com mais de 70 atividades entre mesas, oficinas,
vivências e visitas de campo.
O evento foi organizado por
meio de uma parceria entre a Fiocruz, a Universidade Federal Fluminense (UFF),
a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e o Fórum de Comunidades Tradicionais
(FCT). Também participaram da construção organizações como a Coordenação
Nacional de Comunidades Tradicionais Caiçaras (CNCTC), a Coordenação Nacional
de Comunidades Negras e Rurais Quilombolas (Conaq) e a Comissão Guarani Yvyrupá
(CGY), principal organização de representação dos Povos Guarani no sul e
sudeste do Brasil.
Coordenado pela
Vice-Presidência de Atenção, Ambiente e Promoção da Saúde (VPAAPS), o projeto
Ará teve atuação integrada de três programas territoriais da Fiocruz: Fórum
Itaboraí: Política, Ciência e Cultura na Saúde, Observatório dos Territórios
Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS) e Fiocruz Mata Atlântica.
Durante o EITS foram apontados
os principais resultados relacionados aos quatro eixos do projeto: soberania e
segurança alimentar e nutricional, construção de conhecimentos, saúde das
pessoas e dos territórios e construção social de mercados. Esses aprendizados
irão compor uma publicação do projeto, que está em fase final de elaboração. Um
boletim com uma prévia do trabalho foi distribuído para o público que assistiu
a apresentação.
A abertura da mesa contou com
a participação da dona Benedita, benzedeira do Quilombo do Campinho, que
abençoou todos os presentes. Logo após, Guilherme Franco Netto, coordenador de
Saúde e Ambiente e Sustentabilidade (SAS/VPAAPS) falou sobre a
importância do projeto. “Tivemos uma aproximação muito importante com os
movimentos sociais desses territórios que vêm trabalhando na perspectiva da
agroecologia. Então, para nós, do ponto de vista de realização, este é um
momento muito precioso. Este projeto traz esse grãozinho, essa semente
fundamental, e a gente pretende fazer com que isso tenha uma repercussão ao
nível de todos os territórios do nosso país”, disse.
Em seguida, a comunicadora do
projeto Ará, Angélica Almeida, falou sobre o processo de sistematização. “Desde
o começo ficou nítido para nós que seriam muitos os aprendizados deste projeto
construído com diversidade de atores e que precisávamos registrar de forma
muito cuidadosa as ações, cuidando da memória para inspirar os caminhos dos
programas territoriais da Fiocruz e futuros projetos”, afirmou.
As ações territoriais em
Petrópolis e Areal
Em Petrópolis, o projeto atuou
no Quilombo da Tapera, além das regiões do Bonfim e Brejal. No município de
Areal, a iniciativa ocorreu no Quilombo Boa Esperança. Entre os destaques do
Ará nesses territórios estão: a construção de unidades demonstrativas de
saneamento ecológico, o cercamento de minas aquíferas e outras ações com
objetivo de melhorar a potabilidade da água; implantação de quintais
produtivos, resgate da avicultura, fortalecimento da identidade e cultura
quilombola, do associativismo e da capacidade produtiva de artesanatos, mel,
melaço, rapadura e ovos.
Morador do Quilombo Boa
Esperança, Marcos de Souza Gomes, participou do encontro e destacou a
importância das ações no território. “Tinha mulheres que carregavam água no
balde em uma distância de 65 metros. Sessenta e cinco metros andando com o
balde sendo que a água estava dentro do quintal da pessoa”, relatou,
ressaltando que o projeto foi fundamental para resolver a situação por
meio da instalação de ferramentas de tecnologia social, como o cercamento e
proteção das nascentes e o saneamento ecológico. “Uma andorinha só não faz
verão, se todos nós nos unirmos vão acontecer mais e mais coisas”, acrescentou.
Durante a apresentação dos
resultados, Daiana Gomides, analista em gestão do Fórum Itaboraí, comentou
que outras ações ajudaram a fortalecer o trabalho no território, como as
contratações das mobilizadoras locais. “Isso para poder auxiliar o processo de
comunicação, de mobilização, de organização comunitária. E foi um ganho grande
para o território, ter essas lideranças, todas mulheres, cuidando da
comunidade, ouvindo e processando, ajudando na sistematização e nos
aprendizados também”, disse.
Assistente Social do Fórum
Itaboraí, Marina Rodrigues acrescentou que a força das mulheres no processo de
organização comunitária foi essencial para resgatar e valorizar os saberes e
práticas locais. Um exemplo importante foi a ação educacional liderada por uma
professora da comunidade, que foi designada para desenvolver uma classe de
educação de jovens e adultos, o que contribuiu para que alguns moradores
retomassem os estudos.
Outro aspecto importante do
projeto Ará no território foi o trabalho de memória, a valorização dos griôs, o
resgate histórico e cultural da comunidade. “As pessoas hoje dizem que se
sentem mais valorizadas e mais confiantes para contar essa história. Então foi
feito um trabalho de memória magnífico com a comunidade, um resgate profundo de
valorização das pessoas do território, da dança, do canto”, disse Marina.
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