Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.100/25, que proíbe o uso de celulares nas escolas de Educação Básica. A medida, que já está em vigor, tem como objetivo promover um ambiente educacional mais focado e menos dispersivo, além de estimular a interação social e o desenvolvimento cognitivo dos alunos. A lei vem gerando debates entre educadores, psicólogos e pais, que veem tanto benefícios quanto desafios na implementação dessa nova regra.
Para a professora e psicóloga Cláudia Santana, responsável pela área de Psicologia Escolar do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE), a lei deve ser vista como uma medida educativa importante, especialmente no contexto atual.
"Como psicóloga e pesquisadora da infância há mais de 25 anos, percebo o quanto o uso indiscriminado de aparelhos eletrônicos, sobretudo o celular, tem provocado mudanças no ritmo e na forma dos processos de aprendizado e desenvolvimento", afirma.
A especialista na área de psicologia infantil ressalta que a tecnologia não deve ser eliminada dos contextos educacionais, mas é necessário refletir sobre suas formas de utilização. "Para mim, essa Lei é uma estratégia importante para nos fazer refletir sobre o uso indiscriminado dos aparelhos eletrônicos em diferentes contextos. Nossas crianças são nativas das tecnologias digitais, portanto a ideia não é impedi-las de usar a tecnologia, mas acredito que essa Lei pode nos auxiliar na criação de estratégias mais educativas e éticas para seu uso", completa.
Cláudia Santana também chama a atenção para o que ela denomina de "ansiedade por conexão", um fenômeno que afeta tanto adultos quanto crianças.
"As crianças recebem, via redes sociais, uma quantidade ilimitada de informações de todos os tipos, entre eles, padrões de beleza, bens de consumo, formas de comportamento, etc. Isso oferece alguns riscos que precisam ser analisados com mais cuidado pela sociedade em geral", explica.
A psicóloga destaca que muitas dessas informações são descontextualizadas e podem gerar frustrações ao comparar a vida real com os padrões virtuais. "Essas frustrações dão origem a uma série de sintomas de estresse e ansiedade em função de padrões de vida difíceis de alcançar", ressalta.
Há também muitas mudanças comportamentais provocadas pelo uso excessivo de celulares que podem ser observadas pelos responsáveis. "O celular como um instrumento cultural proporciona mudanças no comportamento humano, assim como qualquer outro instrumento cultural. Essa é uma lei geral do desenvolvimento humano. Nesse sentido, temos que pensar nas consequências que esse aparelho tem provocado no desempenho das crianças", afirma.
A psicóloga reconhece ganhos significativos com a invenção do celular e das redes sociais, mas alerta para as consequências negativas que justificaram a promulgação da Lei 15.100/25. No contexto educacional, Cláudia Santana observa que o uso excessivo de celulares tem impactado o desempenho dos alunos.
"Entre eles cito as dificuldades de concentração, atenção, processamento das informações e interação. A gente percebe que muitas crianças têm dificuldade em concentrar-se em conteúdos que são mais demorados que um vídeo do Tik Tok, por exemplo", explica.
Segundo a especialista, o processamento de informações intelectualmente elaboradas e complexas exige tempo e esforço cognitivo, algo que pode ser prejudicado pelo uso indiscriminado de aparelhos eletrônicos. "As crianças que usam indiscriminadamente esses aparelhos e redes sociais podem ter dificuldades em processar uma informação intelectualmente elaborada e complexa. Em geral, conseguem apenas decodificar comandos simples e práticos, o que em termos educacionais e humanos significa uma perda irreparável para a nossa humanidade", finaliza.
Postar um comentário
Gostou da matéria? Deixe seu comentário ou sugestão.